Sida ainda alimenta preconceitos
Em 1993, o actor Tom Hanks, assumindo a identidade de um homossexual seropositivo, passava, para o grande ecrã, o estigma que acompanha os doentes infectados por VIH ou com SIDA, no filme “Filadélfia”. Nestes 15 anos de intervalo, apareceram vários tratamentos inovadores que, com as suas substâncias activas, conseguiram controlar o vírus dentro do organismo, impedindo a sua replicação. E a discriminação? Há algum medicamento que combata o preconceito?
Se, há uns anos, a infecção VIH/Sida estava intrinsecamente ligada a determinados grupos de risco, nomeadamente aos homossexuais e a toxicodependentes, desde há vários anos que os dados apontam para um crescimento do número de casos entre os heterossexuais. Segundo o último relatório do Instituto Nacional Ricardo Jorge, referente ao primeiro semestre de 2008, é na população com mais de 55 anos que é mais notória esta tendência.
A mesma análise indica que, nos primeiros seis meses deste ano, foram notificados 317 casos de infecção VIH/Sida, o que perfaz um total de 33.815 casos identificados desde 1983 – data dos primeiros casos de Sida em Portugal. Estas estatísticas colocam o nosso País nos primeiros lugares da tabela europeia, a seguir à Estónia, com maior número de infecções por 100 mil habitantes.
Segundo o Prof. António Mota Miranda, infecciologista e membro da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da Sida (APECS), “o nível cultural e a educação continuam a ser factores que colocam a população portuguesa em risco de contrair a infecção”. Refere o especialista que, para melhorar o panorama epidemiológico da infecção VIH/Sida no país, “é mandatório investir em medidas que despertem uma maior consciencialização da população para o risco e para a vulnerabilidade da infecção”.
O vírus da imunodeficiência humana (VIH) não escolhe raça, cor, idade, sexo estatuto socioeconómico ou cultural, pelo que “ninguém está livre de adquirir a infecção”. Acontece, porém, que os motivos culturais ainda tornam vulneráveis determinadas populações, principalmente quando se torna socialmente aceitável a poligamia ou a recusa do uso do preservativo, o principal método-barreira para evitar o contágio.
A partir do momento em que se adquire o VIH até à altura em que a Sida se desenvolve podem decorrer, em média, entre 8 a 11 anos. “A evolução natural, sem intervenção terapêutica, da doença até à morte pode variar entre alguns meses a alguns anos”, justifica o especialista. Contudo, hoje em dia, com as ferramentas terapêuticas “é possível prolongar, por várias décadas, a esperança média de vida de um doente, bem como a sua qualidade, sem que o mesmo apresente qualquer manifestação de doença”.
Estão, no entanto, identificados dois tipos de vírus da imunodeficiência humana, cujos comportamentos são diferentes. “O VIH-1 é um vírus mais agressivo e a progressão da infecção assintomática [em que não apresenta sintomas] para Sida é mais rápida, contrariamente ao VIH-2, em que o período de latência clínica pode atingir duas a três décadas. O VIH-2 tem um menor risco de transmissão por qualquer das vias, ao passo que o VIH tipo 1 é mais facilmente transmissível.”