Alcoolismo nos jovens
A gota que faz transbordar o copo. Os dados indicam que a ingestão de álcool entre os jovens com menos de 18 anos está a crescer em Portugal. A somar a este aumento junta-se o fenómeno de binge drinking, um padrão de consumo acelerado de álcool num curto espaço de tempo.
Objectivo? Alcançar mais rapidamente o estado de euforia através da bebida. Mas será que os adolescentes de hoje preparados para lidar com as consequências do álcool amanhã?
Nuno (optou por ser chamado assim) teve o primeiro contacto com as bebidas alcoólicas aos 8 anos. À revelia do avô, que lhe pedia para ir à tasca buscar uma garrafa de vinho, aproveitava para tirar uns goles do gargalo.
“Não foi o sabor do vinho” que lhe despertou a curiosidade, nem tão pouco o estado de euforia. Nuno olhava para a garrafa como o “fruto proibido”. E, como diz o ditado, este é sempre o mais apetecido.
Por volta dos 14 anos, juntou-se com um grupo de amigos e apanhou as primeiras bebedeiras. “Como tinha um problema de timidez, comecei a gostar do efeito que o álcool provocava em mim, porque me desinibia”, recorda. Nuno diz ter conquistado, em conjunto com o seu grupo de pares, um estatuto de liderança na escola. “Na altura, o álcool enchia-me o ego, porque me permitia fazer coisas que no estado normal não seria possível.”
Pouco a pouco, foi alimentando um hábito, sem se aperceber que, anos mais tarde, se iria deparar com a gota de álcool que fez transbordar o copo na sua vida. Já na escola secundária, aliou-se a um grupo, “uma espécie de gang”, cujo principal objectivo “era beber de manhã até à noite”. Nuno esperava ansiosamente pelo intervalo das 9 e meia da manhã (o maior), para se dirigir ao supermercado mais próximo e comprar uma garrafa de cerveja. “Bebia tudo quase de penalty, com mais um ou dois amigos, e até à hora do almoço já aguentava.”
O álcool foi o que uniu os amigos de Nuno e o que os separou. Como nem sempre havia dinheiro para sustentar o “hábito”, o grupo assumia alguns comportamentos anti-sociais. “Fizemos de tudo para satisfazer o vício”, lembra. Mas o álcool empurrou-o para o “mau caminho”, até que, por intervenção dos pais e da escola, o grupo se desfez. “Alguns dos meus amigos deixaram de beber, mas eu continuei”, lamenta.
De cabeça cheia
Tinha acabado de completar os 18 anos e tirado a carta quando começou a trabalhar. Atingir a maioridade era a vontade de Nuno, já que a isso lhe permitia carimbar o passaporte da independência financeira e, assim, “sustentar o vício”. Nesta altura, começou a sair à noite e, todos os dias, excepto ao domingo, “eram bebedeiras de caixão à cova”. Por cada saída nocturna, Nuno chegava a gastar perto de 150 euros em álcool”.
Começou a trabalhar com automóveis e, apesar de ser o mais novo, estava integrado na equipa, dado que praticamente todos os colegas de emprego bebiam. “Sentia-me nas nuvens, porque podia beber à vontade sem ser repreendido. Pelo contrário, ainda me davam palmadinhas nas costas. Mas estes anos, em que trabalhei neste local, ainda agravaram mais o meu alcoolismo”, lamenta.