Arquivo de Alcoolismo - Médicos de Portugal

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As bebidas com álcool enganam: são mais os riscos do que os benefícios. Antes da próxima bebida, pára para pensar se vale mesmo a pena…

A primeira vez

É nas primeiras saídas com amigos que, por vezes, se dá o primeiro contacto com o álcool. Afinal, esta é uma fase de experiências e desafios!

 

Duas faces

Por momentos sentes-te mais à vontade, mas há um preço a pagar. É que o álcool tem duas faces e pode ser traiçoeiro e perigoso:

  • A desinibição e a ousadia: podem conduzir a excessos e a más decisões;
  • Os reflexos alteram-se e demora-se mais tempo a reagir, a visão e o pensamento ficam “nublados” e perde-se capacidades;
  • É maior o risco de acidentes se conduzires ou viajares num carro conduzido por alguém que bebeu – os acidentes de viação são a principal causa de morte nos jovens;
  • Aumenta também o risco de consumir outras substâncias;
  • Nesta fase decisiva de crescimento, o consumo excessivo de álcool influencia negativamente a personalidade, as capacidades físicas e intelectuais;
  • Em situações de abuso o risco de intoxicação alcoólica é iminente e pode levar ao hospital;
  • Quando o consumo excessivo se torna um hábito, há risco de desenvolver doenças crónicas (do fígado e estômago) e muitas outras.

 

Pára e pensa…!

É importante conhecer os sinais que te dizem quando ultrapassaste o teu limite – está na altura de pousar o copo e dar lugar às bebidas sem álcool!

Em matéria de consumo de álcool, mais vale não abusar. E se já bebeste, reflecte um pouco:

Por lei não é permitido consumir álcool antes dos 16 anos – se o fizeres antes dos 18 anos estás a prejudicar seriamente a tua saúde;

Cada bebida tem um teor alcoólico diferente – não é o mesmo beber uma cerveja ou um shot… Não é igual nos rapazes e raparigas – igual quantidade de álcool resulta, nas raparigas, em níveis mais elevados no sangue, devido a diferenças na composição corporal;

Não é preciso beber e muito menos em excesso para te divertires;

Resiste à pressão – se não te apetecer beber ou se achas que já chega, diz não com convicção. Para pesar prós e contras, é importante estar informado. Pergunta a quem sabe e em quem confias – alguém da tua família, professores, profissionais de saúde, ou um amigo: ouve o que têm para dizer e coloca as tuas dúvidas.

 

E a dependência?

O álcool causa dependência. Por isso, antes da próxima bebida pergunta a ti próprio:

  • Estás a beber cada vez mais?
  • Já tentaste parar de beber e não conseguiste?
  • Não te sentes bem se não bebes?
  • Tens dificuldade em lembrar-te do que acontece quando bebes demais?
  • Bebes quando te sentes sozinho ou tens problemas?
  • Bebes umas atrás das outras sem parar?

Se respondeste sim a alguma destas perguntas, pensa melhor.

Toma uma decisão e se precisares procura ajuda.

FARMÁCIA SAÚDE – ANF
www.anf.pt





Verão “rima” com descontracção, podendo criar um ambiente propício aos excessos, nos quais se incluem as bebidas alcoólicas. Há, assim, cuidados a ter para que as noites quentes não acabem mal.


O bom tempo apela às saídas nocturnas, a jantares prolongados ou a um fim de tarde numa esplanada. Actividades muito procuradas sobretudo pela descontracção e prazer em desfrutar bons momentos, não raras vezes convidativos ao consumo de álcool. Afinal, quem não gosta de apreciar o pôr-do-sol com a partilha de uma bebida?


De facto, é frequente agir-se desta forma quando no dia seguinte não existe um horário a cumprir e especialmente se se está de férias. Todavia, é necessário beber com moderação. Na verdade, a vida quotidiana é relegada ao esquecimento, assim como as consequências do consumo abusivo de bebidas alcoólicas.


À sensação inicial de euforia e desinibição segue-se um estado de sonolência, dificuldade na movimentação, diminuição da capacidade de atenção e compreensão, fadiga muscular, entre outros. Estes são alguns dos sintomas da ingestão excessiva de bebidas alcoólicas. Quando em excesso, o álcool entra no organismo e bloqueia o funcionamento do sistema cerebral responsável pelo controlo das inibições, provocando uma situação de embriaguez.


Algumas horas mais tarde, a intoxicação aguda de álcool resulta numa variedade de sintomas conhecidos como “ressaca”: dores de cabeça, náuseas, boca seca, tonturas, desconforto gastrintestinal, falta de apetite, suores.


A nível metabólico, a “ressaca” está relacionada com a acção do álcool sobre o sistema nervoso central. Não é, portanto, nenhuma doença. Apenas se traduz pelo aparecimento de um conjunto de sintomas debelados, através de diversas medidas, entre elas o descanso ou o uso de medicamentos específicos.


 


Efeitos variam


Os efeitos imediatos do consumo de álcool variam de pessoa para pessoa. O mesmo acontece com a intensidade da “ressaca”. Os jovens, por exemplo, têm o sistema de metabolização hepática mais imaturo sendo por isso mais susceptíveis aos efeitos nefastos do álcool.


A quantidade ingerida é determinante, assim como o tipo de bebida, a velocidade com que se bebe, a constituição corporal, os hábitos (o consumo regular e excessivo facilita a embriaguez), o género ou o estado de saúde geral. A alimentação é igualmente fundamental.


Se o estômago estiver vazio, a absorção é mais rápida, entrando mais rapidamente na circulação e causando efeitos nefastos.


Evitar os excessos é, na verdade, a melhor atitude. Beber abusivamente pode não apenas invalidar o dia seguinte como estragar o momento que está a ser vivido.


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Por exemplo, a DPOC – acrónimo que identifica a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica – atinge mais de 330 milhões de pessoas em todo o mundo e é responsável, em cada ano, por mais de 3 milhões de óbitos – 5% do número global de falecimentos.


Em Portugal, os últimos dados apontam para mais de um milhão de pessoas a sofrerem de DPOC – 14% da população. Prevê-se que este número continue a aumentar devido ao tabagismo, ao envelhecimento da população e à poluição atmosférica.


Acontece que esta doença afecta, de sobremaneira, o aparelho respiratório. À tosse e à expectoração persistentes, seguem-se cansaço progressivo e dificuldade respiratória para esforços progressivamente menores, até que, nas fases mais adiantadas da doença, estes sintomas tornam-se permanentes, mesmo em repouso, tornando difícil ou mesmo impossível as atividades normais de vida diária. E o doente pára.


A esta situação respiratória é frequente associarem-se outras patologias, tais como, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, ansiedade, depressão, disfunção sexual e as temíveis infeções respiratórias, que são um importante fator de progressão da doença e obrigam, muitas vezes, ao internamento hospitalar.


Devido à progressiva incapacidade de deambulação que torna o doente cada vez mais sedentário, surgem, com muita frequência, a obesidade, a osteoporose e a diabetes, com todo o cotejo de problemas que lhe estão associados.


Todas estas situações agravam significativamente as queixas respiratórias, provocando um ciclo vicioso muitas vezes difícil de romper. E entre os elementos de ruptura, a medicação e a atividade física regular são duas importantes ferramentas.


Por tudo isto, na DPOC, é importante combater a tendência natural para o sedentarismo, estimulando o doente a mobilizar-se o mais possível, de acordo com as suas capacidades.


Os benefícios do exercício físico regular são enormes, referindo-se como os mais importantes, os seguintes: melhoria da resistência ao esforço; diminuição da falta de ar; melhoria da actividade sexual; diminuição da ansiedade e da depressão; aumento da sensação de bem-estar; melhoria da qualidade do sono; melhoria do controlo da tensão arterial; contribuição para a perda de peso ao reduzir-se a gordura corporal; diminuição do número de infecções respiratórias; melhoria da recuperação após uma exacerbação; redução do risco de acidentes cardiovasculares; diminuição do risco de diabetes; combate à osteoporose; potenciação do efeito da terapêutica broncodilatadora e aumento da sobrevivência.


É evidente que apesar da actividade física regular ser um importantíssimo factor para a melhoria da disponibilidade respiratória, para a melhoria da qualidade de vida e para uma maior sobrevivência do doente DPOC, devido aos circunstancialismos da doença ela deve ser orientada por um especialista e sempre realizada de acordo com as capacidades cardiorespiratórias de cada doente.


Veremos no próximo artigo alguns conselhos para uma actividade física regular dos doentes com DPOC.





Desafiar e arriscar são verbos ajustados aos adolescentes, naturalmente rebeldes, com ou sem causa. Sede de quebrar laços com a infância e percorrer o mundo dos adultos, tantas vezes saciada em grupo, pela necessidade de pertença a um colectivo de pares, irmanados pelos mesmos gostos e interesses.


É com eles que se partilham vivências e experiências. Cedo se fumam os primeiros cigarros e mesmo que o sabor não agrade, fala mais alto exibir uma pseudo-maturidade num contexto social. Tal como as bebidas alcoólicas, que se experimentam também por curiosidade nas desejadas saídas nocturnas - a grande prova de independência nestas idades. Os adolescentes bebem porque é socialmente aceite, não por serem dependentes.


Mas o risco dos excessos existe sempre. Outra curiosidade é despertada pelo mito das experiências transcendentais conferidas pelas drogas, que estão onde estão os adolescentes. A droga é acessível e o primeiro consumo tende a ser cada vez mais precoce. Os narcóticos, como a heroína, derivados do ópio, provocam uma sensação de êxtase, seguida do entorpecimento dos sentidos e de um estado semelhante ao sono, mas em doses elevadas podem levar a paragem respiratória e, eventualmente, à morte. O seu uso prolongado causa dependência. Também os estimulantes, como as anfetaminas ou a cocaína, provocam estados de euforia, na medida em que aumentam o nível de actividade neurológica do centro nervoso responsável pelo prazer. O seu uso prolongado gera depressão, fadiga e, em doses elevadas, podem provocar psicoses, bem como danos cerebrais e morte.


Por mais tentador que seja embarcar na euforia, o consumo de qualquer substância psicoactiva pode originar sérios problemas, até de sobrevivência. Para um adolescente ávido de assumir riscos, pode ser difícil não embarcar, mas convirá estar bem informado sobre o destino. Para tomar a melhor decisão.


Finalmente, a adolescência é a etapa da vida em que o ser humano ganha a dimensão como ser sexual e sexuado, com sensações de desejo e prazer. Daí que as emoções sejam intensas e únicas - surgem as primeiras paixões, as declarações de amor eterno. É o início de um percurso recheado de pressões e influências, gerando dúvidas e receios.


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O médico, apesar de todo um moderno quotidiano tendente em depreciar a sua actividade, ainda ocupa o antigo espaço daquele que cuida, que cura, que alivia a dor, que restabelece a saúde. Se procurado, torna-se assim o natural depositário das dúvidas, angústias e queixas sexuais de seus doentes.


Habitualmente, qualquer que seja a resposta do médico, ela será vivamente incorporada nas vivências e nas crenças do doente. É isso que, independentemente de se fazer um diagnóstico e se estabelecer um tratamento, determina uma enorme importância ao papel educador do médico, que deve ser considerado particular e único.


É certo que não se pode, nem deve, depreciar o valor e interesse das acções de informação pública, aquelas que pretendem levar informação a toda a população. Mas, no caso da sexualidade humana, a informação pública é uma faca de dois gumes.


Veja-se como, a propósito do Dia dos Namorados, a televisão, a rádio e os jornais abordam o tema do amor, da paixão e do sexo. Fazem-no ampla e intensamente. De um modo aligeirado ou de uma maneira profunda. Mas quase sempre falham no que é absolutamente essencial: informar sem desinformar. Ou melhor, sem desinformar mais.


Os problemas sexuais têm um forte repercussão pessoal, conjugal, familiar e social. Os progressos feitos nos últimos anos no domínio do conhecimento dos comportamentos sexuais, abrem novas perspectivas para as pessoas que têm dúvidas, e que querem saber. Para esses, queremos deixar uma mensagem muito clara: procurem ajuda. Cada vez há mais e melhores profissionais de saúde - médicos, mas também psicólogos e enfermeiros - capazes de dar respostas. A velha postura de dúvida e angustia, fruto do desconhecimento, desconforto ou desinteresse, não tem cabimento nos dias de hoje.



Nuno Monteiro Pereira
Urologista





Para conduzir, todos necessitamos de ter as capacidades intactas. Caso opte por consumir álcool durante festas, jantares ou locais de convívio, deixe a condução para quem não bebe ou apanhe um táxi. "Nunca aceite boleia de alguém que tenha bebido ou ofereça bebidas alcoólicas a quem vá conduzir", indica a Dr.ª Sílvia Victor, psicóloga clínica. Eis a alternativa mais importante e segura para evitar perigos desnecessários. "As bebidas alcoólicas em excesso podem induzir um estado inicial de desinibição, euforia e a falsa segurança em si próprio", acrescenta a especialista.


A transição de beber moderadamente a beber problematicamente implica "passar de uma fase em que a ingestão de álcool se encontra numa dimensão social normal para uma situação de carácter patológico. Esta transição ocorre de forma lenta, tendo uma interface que, em geral, pode levar vários anos. Nesta fase, torna-se essencial que a pessoa procure ajuda de forma a conseguir tratar-se da doença grave que contraiu e do processo auto-destrutivo em que se encontra", indica Sílvia Victor.

Como saber se o consumo é meramente social ou se se está a transformar numa clara dependência? Existem sinais de alerta, como por exemplo, "beber sozinho, diariamente ou frequentemente, ficar alcoolizado em todas as festas que frequenta, colocar o álcool como prioridade dos seus interesses, sentir-se incapaz de parar ou reduzir o consumo de álcool", salienta a psicóloga clínica. Os episódios de violência associado ao consumo, ficar irritado quando confrontado sobre a bebida e frequentar restaurantes/cafés secretamente estão entre outros dos sinais de alerta mais comuns.



Factores que predispõem ao consumo excessivo


Existem estudos que apontam a hereditariedade "como uma forte causa do alcoolismo, isto é, filhos de pais alcoólatras apresentam maior probabilidade de poder vir a sofrer do mesmo vício". As doenças mentais, como a depressão, a perturbação de pânico, a fobia social, o transtorno de personalidade, entre outros, "são frequentemente associadas ao processo de alcoolismo", diz-nos a psicóloga clínica.

Podem referir-se factores de personalidade traduzidos em traços comuns dos dependentes de álcool, como por exemplo, "a dependência, hostilidade, egocentrismo e tendência auto-agressiva". Sabe-se também que o álcool é muito estimulado em sociedade. "Em alguns grupos, beber pode ser um factor determinante para ser aceite ou não. Alguns encontram também no álcool a resposta para alegrias e problemas. Todas estas situações podem levar indivíduos ao abuso e, consequentemente, à dependência do álcool", reforça Sílvia Victor.



Como tratar?


Actualmente, existem diversas formas eficazes para tratar o alcoolismo. "O método mais simples, para casos mais leves, é a realização de consultas de psicologia com um profissional experiente, onde se tentará discutir as dificuldades de abandonar o vício e encorajar os esforços", aconselha a psicóloga clínica Sílvia Victor. Outro dos métodos eficazes é o recurso a grupos de auto-ajuda, particularmente "os Alcoólicos Anónimos (método baseado em 12 passos para se deixar de beber, além de reuniões frequentes).

Os casos mais graves deverão ser encaminhados para um acompanhamento psicoterapêutico (a terapia cognitivo-comportamental evidencia excelentes resultados no tratamento do alcoolismo) e farmacológico", acrescenta a especialista. Há que analisar adequadamente cada caso. "Como psicóloga clínica, cabe-me avaliar o grau da dependência e perceber qual será o tratamento adequado à pessoa que está à minha frente", conclui.





Objectivo? Alcançar mais rapidamente o estado de euforia através da bebida. Mas será que os adolescentes de hoje preparados para lidar com as consequências do álcool amanhã?


Nuno (optou por ser chamado assim) teve o primeiro contacto com as bebidas alcoólicas aos 8 anos. À revelia do avô, que lhe pedia para ir à tasca buscar uma garrafa de vinho, aproveitava para tirar uns goles do gargalo.


"Não foi o sabor do vinho" que lhe despertou a curiosidade, nem tão pouco o estado de euforia. Nuno olhava para a garrafa como o "fruto proibido". E, como diz o ditado, este é sempre o mais apetecido.


Por volta dos 14 anos, juntou-se com um grupo de amigos e apanhou as primeiras bebedeiras. "Como tinha um problema de timidez, comecei a gostar do efeito que o álcool provocava em mim, porque me desinibia", recorda. Nuno diz ter conquistado, em conjunto com o seu grupo de pares, um estatuto de liderança na escola. "Na altura, o álcool enchia-me o ego, porque me permitia fazer coisas que no estado normal não seria possível."


Pouco a pouco, foi alimentando um hábito, sem se aperceber que, anos mais tarde, se iria deparar com a gota de álcool que fez transbordar o copo na sua vida. Já na escola secundária, aliou-se a um grupo, "uma espécie de gang", cujo principal objectivo "era beber de manhã até à noite". Nuno esperava ansiosamente pelo intervalo das 9 e meia da manhã (o maior), para se dirigir ao supermercado mais próximo e comprar uma garrafa de cerveja. "Bebia tudo quase de penalty, com mais um ou dois amigos, e até à hora do almoço já aguentava."


O álcool foi o que uniu os amigos de Nuno e o que os separou. Como nem sempre havia dinheiro para sustentar o "hábito", o grupo assumia alguns comportamentos anti-sociais. "Fizemos de tudo para satisfazer o vício", lembra. Mas o álcool empurrou-o para o "mau caminho", até que, por intervenção dos pais e da escola, o grupo se desfez. "Alguns dos meus amigos deixaram de beber, mas eu continuei", lamenta.


 


De cabeça cheia


Tinha acabado de completar os 18 anos e tirado a carta quando começou a trabalhar. Atingir a maioridade era a vontade de Nuno, já que a isso lhe permitia carimbar o passaporte da independência financeira e, assim, "sustentar o vício". Nesta altura, começou a sair à noite e, todos os dias, excepto ao domingo, "eram bebedeiras de caixão à cova". Por cada saída nocturna, Nuno chegava a gastar perto de 150 euros em álcool".


Começou a trabalhar com automóveis e, apesar de ser o mais novo, estava integrado na equipa, dado que praticamente todos os colegas de emprego bebiam. "Sentia-me nas nuvens, porque podia beber à vontade sem ser repreendido. Pelo contrário, ainda me davam palmadinhas nas costas. Mas estes anos, em que trabalhei neste local, ainda agravaram mais o meu alcoolismo", lamenta.


Depois, passou para a área comercial, que exigia a Nuno mais moderação no consumo, porque um funcionário embriagado não era bem visto pelos clientes. Mas, afirma, contava os minutos que faltavam para largar o expediente.


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Fundada em 1986, a APCV representa as empresas que, em território nacional, exerçam a indústria da produção e/ou enchimento de cerveja. Colabora activamente no Plano de Redução dos Problemas Ligados ao Álcool 2010-2012, através do Instituto de Drogas e Toxicodependência visando promover iniciativas no âmbito da responsabilidade social.


O objectivo? "O combate ao abuso do consumo de bebidas alcoólicas e consequente efeito nefasto para a Saúde Pública. É um plano meritório que procura atacar a raiz do problema, através de medidas de médio e longo prazo, mas consideradas mais eficazes, nomeadamente através da informação, educação (aos pais, nas escolas e na sociedade em geral), e formação profissional dos agentes envolvidos", esclarece o Dr. Alberto da Ponte, presidente da APCV.



Na verdade, torna-se essencial distinguir entre o consumo moderado de álcool e o excesso de consumo. "Indivíduos adultos e saudáveis que consomem moderadamente, o que significa 2 a 3 imperiais diariamente, não correm o risco, reconhecido pela própria Organização Mundial de Saúde, de criar qualquer dependência nem alterações de comportamento que incluam violência. Esse tipo de comportamento é característico de indivíduos que sistematicamente abusam no consumo de álcool de forma intensa e que urge prevenir e combater", defende o presidente da APCV, considerando que a indústria de bebidas "é parte integrante dessa solução". A associação, no seu papel de representante do sector, "possui uma estratégia abrangente de responsabilidade social que passa pelos jovens, pelas grávidas, pela condução ou pelo consumo excessivo, lançando que todos os anos iniciativas de informação e educação relacionadas com um ou mais dos eixos acima referidos", diz-nos Alberto da Ponte.



Formar e educar


Os dados que a APCV possui "apontam para uma diminuição da sinistralidade rodoviária acentuada em Portugal nos últimos anos mas reconhecemos que existe um problema de ingestão de bebidas alcoólicas e condução que urge combater". A posição da APCV é muito clara pois "promove activamente a mensagem que se vai conduzir não deve beber qualquer bebida com álcool, incluindo a cerveja, a não ser que opte por cerveja sem álcool. Naturalmente que os períodos festivos, em que os portugueses estão mais propensos a ingerir bebidas alcoólicas, são de maior risco, daí ser muito importante a existência de campanhas de sensibilização e educação", alerta o representante desta associação.

A cerveja é a bebida de menos teor em álcool existente no mercado, "devendo ser consumida sempre com moderação para poder ser apreciada. É a bebida ideal para convívio e socialização característica do período festivo que se aproxima". Mais uma vez se apela ao bom senso! "Há que não beber excessivamente, evitar bebidas de forte teor alcoólico e se conduzir, não ingira álcool de todo", acrescenta.

Entre outras iniciativas, a APCV irá lançar no início de 2011, uma grande campanha de informação e educação dirigida aos pais e famílias relacionado com o problema do underage drinking ou seja, o consumo ilegal de bebidas alcoólicas por menores de 16 anos de idade. "Este é claramente um problema da sociedade que não se resolve com leis mas com formação e educação", conclui o presidente da APCV.





Uma dor intensa na região superior do abdómen, que irradia para as costas, pode ser o primeiro aviso de que algo vai mal com o pâncreas. Dor que, com frequência, agrava após uma refeição abundante, sobretudo à base de gorduras.


Com cerca de 13 centímetros e a forma de uma folha, o pâncreas localiza-se atrás do estômago e muito próximo do duodeno (a porção superior do intestino). Trata-se de uma glândula com um papel importante na digestão dos alimentos e no metabolismo dos nutrientes. Produz sucos digestivos e enzimas que ajudam a partir em pedaços mais pequenos as proteínas, os hidratos de carbono e as gorduras, de modo a que possam passar para o intestino delgado. Além disso, segrega insulina e glucagon, duas hormonas que regulam o modo como o organismo utiliza o açúcar (glucose).


O pâncreas é composto, na sua maior parte, por células exócrinas, que produzem as enzimas digestivas e que estão organizadas em grupos que comunicam entre si por pequenos canais. É por esses canais que os sucos circulam até desembocarem num caminho principal - o canal pancreático, que conduz ao duodeno. Antes, porém, junta-se-lhe o canal biliar, que transporta a bílis desde o fígado e a vesícula.


Existem ainda no pâncreas pequenas ilhas de células endócrinas - os ilhéus de Langerhans - que segregam a insulina e o glucagon, libertando-as na corrente sanguínea, juntamente com uma outra hormona, a somatostatina, que regula a secreção da insulina e glucagon.


 


O peso do álcool


É assim que tudo funciona num pâncreas saudável. Mas o processo pode ser perturbado por factores como a ingestão abusiva de álcool - com frequência, em grandes uantidades e prolongada no tempo. Não se sabe exactamente como o álcool afecta o pâncreas, mas sabe-se que desencadeia uma libertação precoce das enzimas digestivas e que aumenta a permeabilidade dos pequenos canais, possibilitando fugas de sucos digestivos para o tecido normal. Sabe-se ainda que a ingestão excessiva de álcool conduz à formação de aglomerações de proteínas, as quais estão na origem de cálculos ("pedra") passíveis de bloquear o canal pancreático. O álcool é a principal causa de pancreatite crónica, sendo mais frequente no homem.


Os cálculos biliares são outra causa frequente de pancreatite aguda - a inflamação do pâncreas. Formam-se na vesícula quando a bílis fica quimicamente instável, após o que migram para o canal biliar, podendo bloquear a passagem dos sucos digestivos para o duodeno. A consequência é que estes sucos ficam activos no pâncreas, onde "comem" o tecido saudável, em vez de actuarem no intestino, desempenhando a sua função de decompor os alimentos.


Há outros factores associados à pancreatite, embora considerados factores de importância menor. Aliás, 80 a 90 por cento dos casos têm os cálculos biliares a álcool como causa. É o caso de medicamentos (como os anti-inflamatórios não esteróides, os corticoesteróides e alguns para a hipertensão arterial), de infecções virais (como a papeira e a hepatite) ou bacterianas, do aumento dos níveis de triglicerídeos no sangue ou de cálcio, e ainda de doenças hereditárias como a fibrose quística.


Os homens são mais propensos a desenvolver pancreatite crónica do que as mulheres, pelo facto de beberem mais - em frequência e quantidade. No sexo feminino, a principal causa são os cálculos biliares.


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Nuno (optou por ser chamado assim) teve o primeiro contacto com as bebidas alcoólicas aos 8 anos. À revelia do avô, que lhe pedia para ir à tasca buscar uma garrafa de vinho, aproveitava para tirar uns goles do gargalo. "Não foi o sabor do vinho" que lhe despertou a curiosidade, nem tão pouco o estado de euforia. Nuno olhava para a garrafa como o "fruto proibido". E, como diz o ditado, este é sempre o mais apetecido.


Por volta dos 14 anos, juntou-se com um grupo de amigos e apanhou as primeiras bebedeiras. "Como tinha um problema de timidez, comecei a gostar do efeito que o álcool provocava em mim, porque me desinibia", recorda. Nuno diz ter conquistado, em conjunto com o seu grupo de pares, um estatuto de liderança na escola. "Na altura, o álcool enchia-me o ego, porque me permitia fazer coisas que no estado normal não seria possível."


Pouco a pouco, foi alimentando um hábito, sem se aperceber que, anos mais tarde, se iria deparar com a gota de álcool que fez transbordar o copo na sua vida. Já na escola secundária, aliou-se a um grupo, "uma espécie de gang", cujo principal objectivo "era beber de manhã até à noite". Nuno esperava ansiosamente pelo intervalo das 9 e meia da manhã (o maior), para se dirigir ao supermercado mais próximo e comprar uma garrafa de cerveja. "Bebia tudo quase de penalty, com mais um ou dois amigos, e até à hora do almoço já aguentava."


O álcool foi o que uniu os amigos de Nuno e o que os separou. Como nem sempre havia dinheiro para sustentar o "hábito", o grupo assumia alguns comportamentos anti-sociais. "Fizemos de tudo para satisfazer o vício", lembra. Mas o álcool empurrou-o para o "mau caminho", até que, por intervenção dos pais e da escola, o grupo se desfez. "Alguns dos meus amigos deixaram de beber, mas eu continuei", lamenta.


 


De cabeça cheia


Tinha acabado de completar os 18 anos e tirado a carta quando começou a trabalhar. Atingir a maioridade era a vontade de Nuno, já que a isso lhe permitia carimbar o passaporte da independência financeira e, assim, "sustentar o vício". Nesta altura, começou a sair à noite e, todos os dias, excepto ao domingo, "eram bebedeiras de caixão à cova". Por cada saída nocturna, Nuno chegava a gastar perto de 150 euros em álcool".


Começou a trabalhar com automóveis e, apesar de ser o mais novo, estava integrado na equipa, dado que praticamente todos os colegas de emprego bebiam. "Sentia-me nas nuvens, porque podia beber à vontade sem ser repreendido. Pelo contrário, ainda me davam palmadinhas nas costas. Mas estes anos, em que trabalhei neste local, ainda agravaram mais o meu alcoolismo", lamenta.


Depois, passou para a área comercial, que exigia a Nuno mais moderação no consumo, porque um funcionário embriagado não era bem visto pelos clientes. Mas, afirma, contava os minutos que faltavam para largar o expediente. "Depois, desgraçava-me todo e fazia o rally das capelinhas.". Experimentou de tudo um pouco, mas admite que a bebida de eleição era o Whisky, porque o fazia "atingir o pico mais rapidamente."


Só ao cabo de alguns anos é que Nuno começou a apreciar realmente o que ingeria. Até conhecer o sabor e as sensações de algumas bebidas, tudo servia para saciar a "sede". "Cheguei a beber álcool etílico e after shave porque não tinha dinheiro para consumir. Estas foram algumas das insanidades que cometi", desabafa.


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