Diminuir a dor e melhorar a imagem corporal das mulheres
FISIOTERAPIA NO CANCRO DA MAMA
Conduzir, jardinar, fazer renda, passar a ferro são hábitos e hobbies que podem ser condicionados depois de uma intervenção cirúrgica, na sequência de um tumor maligno no seio. A fisioterapia vem facilitar o retorno à funcionalidade o mais rápido possível e consequente reintegração social.
«A reabilitação é uma das especialidades mais recentes e promissoras na área do cancro e surgiu face à maior atenção que se tem dado aos aspectos relacionados com a qualidade de vida», diz a responsável pela Associação supracitada, continuando:
«A própria natureza do trabalho do fisioterapeuta requer uma invasão constante do espaço pessoal da pessoa, pois, existe necessidade de tocá-la onde ela está relutante em se tocar.»
Este aspecto serve, assim, de veículo para os doentes «verbalizarem os seus medos, colocarem questões e expressarem as suas ansiedades», acrescenta a terapeuta.
As técnicas utilizadas pelo fisioterapeuta têm, pois, como objectivo melhorar o bem-estar do doente ao nível físico, psicossocial e estético.
A fisioterapia é recomendada após as diversas intervenções cirúrgicas utilizadas no cancro da mama, nomeadamente, «nas mais conservadoras (tumorectomia ou quadrantectomia), em outras mais radicais (mastectomia radical e mastectomia radical modificada) e ainda na reconstrução mamária», refere a fisioterapeuta.
As utilidades ou fins deste tipo de reabilitação podem ser várias, desde a obtenção de funcionalidade do membro superior afectado à prevenção de deformidades posturais, às posições e atitudes viciosas, passando pela rigidez articular e as atrofias musculares. A fisioterapia também ajuda na diminuição da dor, previne edemas e o linfedema pós-mastectomia, «que é a complicação mais frequente no decorrer do tratamento do cancro da mama por terapias oncológicas», explica Verónica Rufino.
Fases e objectivos da fisioterapia
A reabilitação é recomendada em todas as fases da doença e deve ser precoce, para se obterem bons resultados e uma melhoria na qualidade de vida dos doentes.
A actuação do fisioterapeuta no pós–operatório imediato, ainda com pontos e com os tubos de drenagem, «tem como finalidade evitar a limitação da cintura escapular, prevenir deformidades posturais e prevenir edemas por posicionamento», afirma a presidente da APAMCM.
Nesta fase, são ensinados e praticados exercícios isométricos, movimentos pendulares de pequena amplitude (restrita a uma abdução e flexão de 40 graus) e técnicas de relaxamento. No pós-operatório imediato não podem ser feitos movimentos bruscos ou de grande amplitude para preservação dos drenos e cicatrizes. Os exercícios isométricos ou estáticos não implicam movimento do membro superior, mas apenas contracção muscular. Os movimentos pendulares (por exemplo, balançar o braço) servem para descontrair o ombro e ganhar amplitude.
Verónica Rufino realça que «estes exercícios podem e devem ser feitos em casa. É entregue ao doente um folheto com a discriminação dos mesmos, um guia de apoio com conselhos práticos e de actividade da vida diária, bem como a marcação da primeira consulta de Fisiatria, mais ou menos três a quatro semanas depois da alta do hospital. O que se pretende é prevenir possíveis complicações e diminuir a ansiedade destas mulheres».
Após a primeira consulta com o médico fisiatra, tem início outra fase de reabilitação, em que o doente já pode fazer movimentos mais acentuados. «Com os pontos retirados e ausência de tubos de drenagem, a actuação do fisioterapeuta incide numa mobilização activa/activa livre e pendular para manutenção das amplitudes articulares e fortalecimento muscular, bem como massagem da grelha costal para libertação das cicatrizes e ainda técnicas de drenagem linfática manual», explica a fisioterapeuta.
Os tratamentos, normalmente, não são dolorosos, desde que sejam cumpridos todos os passos atrás referidos. A dor costuma surgir quando «os doentes são tratados numa fase mais tardia, a quem é feita radioterapia sem o apoio da fisioterapia, desenvolvem complicações locais como nevrite dos ramos do plexo braquial, fibrose da cintura escapular e ainda linfedema», frisa a fisioterapeuta.
Logo após a cirurgia, actos simples como pentear-se, vestir uma camisola ou tomar banho de chuveiro podem ser tarefas difíceis, mas a pouco e pouco, e com a ajuda da fisioterapia, os doentes poderão voltar às suas actividades da vida diária.