Programa de rastreio nacional à Displasia de Desenvolvimento da Anca
Diagnóstico precoce evitará complicações e cirurgias em recém-nascidos. Três em cada mil bebés nascem com uma alteração no desenvolvimento da anca. Actualmente, o diagnóstico tardio deste problema conduz a cirurgias que poderiam ser evitáveis e a doenças ortopédicas na idade adulta.
Perante esta realidade, durante o primeiro trimestre do próximo ano, em todas as maternidades do país e hospitais com serviços de obstetrícia terá inicio o programa de rastreio de todos os recém-nascidos, de forma a evitar complicações futuras em bebés com alterações na anca.
A Displasia de Desenvolvimento da Anca (DDA) é uma patologia na qual existe uma relação anormal entre a cabeça do fémur e o acetábulo (os componentes da articulação da anca). “É uma patologia neo-natal relativamente frequente, caracterizada pela deficiente relação entre os componentes da articulação da anca, à custa de uma má formação intra-uterina dos mesmos”, explica o Prof. Gilberto Costa, Director da Unidade de Ortopedia Infantil do Hospital de São João.
Os factores de risco para a DDA são vários, nomeadamente, o sexo feminino, a raça branca, os antecedentes familiares e a apresentação de pelve na altura do parto. “Em 30 a 50% dos casos, em que o bebé está em posição pélvica (sentado), a anca está em flexão máxima e com os movimentos limitados, o que favorece a luxação”, indica Gilberto Costa.
Diagnóstico precoce
O exame de rotina de todos os recém-nascidos deve incluir um conjunto de manobras que podem levar à suspeita de uma DDA. “A assimetria das pregas inguinais e/ou nadegueiras, a limitação do movimento de abdução das ancas (abertura das coxas), são alguns dos sinais de suspeita no exame do recém-nascido. Após o período neo-natal, a avaliação da anca deve manter-se nas consultas de rotina pediátricas”, salienta o ortopedista. O diagnóstico tardio é realizado muitas vezes quando a criança tem uma forma estranha de andar ou tarda em iniciar a marcha.
“Na maioria dos recém-nascidos com um diagnóstico realizado precocemente, o tratamento e fácil e o prognóstico é bom. Perante um diagnóstico tardio, os tratamentos são mais complicados e o prognóstico piora em conformidade”, explica o Dr. Manuel Cassiano Neves, coordenador da Secção para o Estudo da Ortopedia Infantil (SEOI) da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT).
Para as mães demasiado preocupadas com a realização de exames em idades tão precoces, fique a saber que a observação clínica é realizada através de uma ecografia da anca. “É um exame inócuo, não tem radiação, e pode fornecer dados objectivos muito importantes para o diagnóstico desta displasia”, garante Gilberto Costa.
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Como tratar?
O tratamento da doença deverá ser sempre orientado por um ortopedista e é diferenciado consoante os casos. Quando o diagnóstico é feito à nascença existem especialistas que recomendam o uso de fraldas duplas ou triplas, com vista ao posicionamento normal da anca. Quando se diagnostica a luxação, são prescritos aparelhos de correcção. No caso das crianças mais velhas, em que o diagnóstico é tardio, a correcção é na maioria dos casos cirúrgica, sendo necessário um aparelho com gesso durante um período de tempo alargado. Por outro lado, a deterioração precoce das articulações pode trazer consequências a curto prazo para estes recém-nascidos.