Mais de um terço dos portugueses são alérgicos » Inverno pode agravar cronicidade dos sintomas
Qual a estação do ano que mais agrava as alergias? A Primavera? Se a resposta é sim, pode não estar certa. O Inverno é a estação mais crítica para muitos alérgicos, especialmente para as crianças e os idosos.
E porquê? «No Inverno, os doentes com alergias perenes, isto é, que se manifestam durante todo o ano, como os alérgicos ao pó, animais domésticos e a alguns fungos têm, nesta estação, factores de agravamento da doença», responde o Dr. Mário Morais de Almeida, alergologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC).
E quais são, então, estes factores próprios da época invernal que agravam as alergias? A lista é extensa: as infecções respiratórias, nomeadamente as virais, as mudanças de temperatura, o frio ou as actividades efectuadas no interior dos edifícios repletos de substâncias alergénicas.
Segundo este médico alergologista, «a asma brônquica e a rinite alérgica são duas situações que, muito frequentemente, se agravam neste período. Se, por um lado, nas estações frias, as vias aéreas estão mais protegidas dos pólenes, por outro, a inalação de ar frio, especialmente pela boca, é também um factor de agressão, provocando queixas nasais e/ou brônquicas».
«Importa que a inspiração se faça pelo nariz, o que frequentemente não é possível se um quadro de rinite não estiver bem controlado. É que, no nosso País, a obstrução nasal é um dos sintomas predominantes nos doentes com rinite alérgica e a falta de controlo é a regra», acrescenta Morais de Almeida.
Para alguns doentes que sofrem de inflamação crónica das vias aéreas, os dias mais frios são uma agravante dos sintomas, pois a inflamação é intensificada pelas infecções virais típicas desta época. «Em cerca de 90% das crises graves de asma na criança, e em 60 a 70% nos adultos, são as infecções virais que desempenham o papel principal no agravamento da doença, podendo aumentar o risco de recurso aos serviços de urgência e mesmo de internamento hospitalar», refere este alergologista.
Por outro lado, dado que no Inverno as pessoas se mantêm mais tempo no interior das habitações, cresce a probabilidade de as reacções alérgicas aos ácaros do pó doméstico ou animais de companhia serem desencadeadas, pois, o tempo de exposição a estes agentes é mais prolongado.
O fumo do tabaco é, também, um agravante das alergias. «Mais infecções, mais tosse, sintomas mais agravados nos doentes alérgicos, sensação de doença permanente são alguns dos “ganhos” da exposição ao fumo do tabaco», verifica Morais de Almeida.
O mais grave é que são muitos os alérgicos que, não sendo fumadores, não conseguem afastar-se deste factor de risco e as crianças são, muitas vezes, «obrigadas» a respirar o fumo que os pais libertam dentro de casa.
Simultaneamente, como refere este alergologista, «activam-se lareiras, usam-se aquecedores por queima de combustíveis, fecham-se os compartimentos da casa. Assim, aumenta-se a exposição a poluentes, favorecendo-se os sintomas de quem sofre de alergias crónicas das vias aéreas».
Frio pode agravar alergias cutâneas
Em Portugal, vários milhões de pessoas sofrem de doenças alérgicas, sendo muito prevalecentes a rinite alérgica e a asma brônquica, embora as queixas na pele, como o eczema atópico e a urticária, sejam também frequentes.
Mas as alergias das vias aéreas não são as únicas que se agravam com o arrefecimento das temperaturas. Algumas alergias de expressão cutânea, como a urticária ao frio, podem também complicar-se.
«A exposição ao frio ambiental ou a substâncias frias (alimentos ou outros), pode desencadear situações muito perturbadoras, como manchas avermelhadas muito pruriginosas e o aumento de volume das mucosas», alerta Morais de Almeida, que continua:
«Em algumas urticárias ao frio surgem quadros muito graves, em que, para além das queixas na pele e nas mucosas, ocorrem situações de perda de consciência, que podem colocar a vida em perigo.»
No caso das alergias cutâneas, tal como nas respiratórias, «temos as ferramentas necessárias e suficientes para alcançar o seu controlo no Inverno, pois, para além de medidas gerais, existem tratamentos tópicos, sistémicos, antialérgicos e anti-inflamatórios. Diminuir a ocorrência de episódios infecciosos, através de vacinas injectáveis e medicamentos imunomoduladores, tomados por via oral, são opções disponíveis, válidas e eficazes», assegura este especialista.
Alérgico controlado, Inverno bem passado
Os meses de Inverno são propícios à ocorrência de sintomas alérgicos, pelo que «a programação do tratamento preventivo deve, idealmente, começar antes desta época. Um alérgico controlado passa a estação com menos sintomas do que muitas pessoas saudáveis», garante Morais de Almeida.
Quem, por norma, é afectado pelas alergias deve estar sensível à importância de controlar os sintomas nesta época do ano. Como? Reduzir a exposição aos alergénios que contaminam o ar, por via de medidas de controlo ambiental, ventilando ou colocando capas antiácaros; prevenir, tanto quanto possível, as constipações, o que passa por uma dieta equilibrada, rica em vitaminas e antioxidantes e fazer exercício físico regular são algumas das medidas.
São muitos os portugueses que sentem os efeitos das doenças alérgicas, certamente mais de um terço da população. A maioria dos quadros infecciosos, nesta altura do ano, são de origem viral e «os antibióticos serão desnecessários em muitos casos, uma vez que podem fazer com que os doentes alérgicos fiquem mais frágeis e susceptíveis a infecções futuras», diz o médico, que ressalva:
«Nos casos em que o uso de antibióticos está indicado, devem mesmo ser tomados de acordo com a indicação médica, prevenindo-se recaídas e evitando-se as sequelas futuras.»