Hepatologia e Avanços no Tratamento do Carcinoma Hepatocelular
Os tumores malignos (ou cancros) constituem um im-portante problema de saúde pública nas sociedades desenvolvidas. Um em cada cinco portugueses morre de cancro. Dos tumores malignos mais frequentes, dois deles têm um prognóstico muito mau, o do pâncreas e o do fígado. Ao contrário do cancro do pâncreas onde pouco há a fazer, no tumor do fígado o mesmo já não acontece.
O tumor maligno que se origina nas próprias células do fígado, é chamado de carcinoma hepatocelular ou também hepatoma. É diferente dos tumores malignos que se podem “ramificar” no fígado, como é o caso da mama ou do cólon. São as chamadas de metástases hepáticas.
O carcinoma hepatocelular é um dos tumores mais frequentes a nível mundial, sendo um dos cinco cancros que mais mata. A sua importância reside também no facto de que se tem assistido ao seu aumento nos países industrializados, como é o caso de Portugal. Não se sabe bem qual a razão, mas pensa-se que possa estar associado ao crescente impacto da hepatite C e ao melhor tratamento dos doentes com cir-rose, permitindo a sua maior sobrevivência.
Apesar de menos mediatizado e conhecido do grande público, mata mais portugueses do que o cancro do colo do útero ou o melanoma.
Dado o seu impacto e a sua gravidade quando diagnosticado, é fácil de compreender que existam muitos cientistas, hepatologistas, cirurgiões, imagiologistas e oncologistas que se dedicam à sua investigação. Na realidade e de uma forma geral, mais de 90% dos doentes afectados por este cancro não sobrevive mais do que cinco anos.
Estão bem estabelecidos as causas, os sintomas, o modo de rastreio e os tratamentos indicados no carcinoma hepatocelular.
A doença que está quase sempre presente no hepatoma é a cirrose hepática. Cirrose é uma situação em que ocorre a morte de numerosas células do fígado, a par da formação de “cicatrizes” (fibrose) e da alteração da sua estrutura: o fígado fica a ter na sua constituição vários nódulos (formações arredondadas). Esta situação leva à alteração da circulação do sangue através do fígado o que pode conduzir à formação de varizes (veias muito dilatadas no esófago que rebentam com muita frequência) e de ascite (“barriga de água”). Outra das consequências da cirrose é o cancro do fígado: praticamente todos os doentes com carcinoma hepatocelular têm cirrose e o risco de cancro do fígado aproxima-se dos 50% aos 10 anos. As causas que originam a cirrose são bem conhecidas: as principais são a ingestão excessiva de álcool (causa mais frequente em Portugal), hepatite C (causa mais frequente na Europa) e a hepatte B (causa mais frequente a nível mundial).
Em termos práticos, o carcinoma hepatocelular é um cancro susceptível de prevenção: evitando o consumo excessivo de álcool, a hepatite B através da vacina e a hepatite C não recorrendo à partilha de material empregue na droga e usando o preservativo em relações de risco. É um dos cancros claramente evitáveis.
O risco de hepatoma é de tal modo elevado, como vimos, na cirrose, que hoje em dia é ponto assente que todos os doentes com cirrose têm que efectuar ecografia de 6 em 6 meses de forma a se detectar precocemente o carcinoma hepatocelular. Nesta fase é susceptível de tratamento. A ecografia é de tal modo importante já que muitos carcinomas hepatocelulares podem surgir e crescer sem qualquer sintoma.