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Doença de Alzheimer manifesta-se normalmente depois dos 50

5 Outubro, 2004 0

Fortemente relacionada com a idade, a doença de Alzheimer (DA) foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer. Segundo o European Alzheimer’s Disease Consortium, surgem 800 mil novos casos por ano, na Europa. No nosso País, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer (APFADA) estima que existam cerca de 60 mil portugueses com esta patologia, que duplica em cada cinco anos de vida após os 65 anos.

Não raras vezes confundida com a doença de Parkinson, a doença de Alzheimer é um processo degenerativo, que pode ser apresentado em formas esporádicas ou familiares. «A doença de Alzheimer é uma patologia que, normalmente, se inicia a partir dos 50 anos, mas, por vezes, pode surgir numa idade mais precoce», comenta o Dr. Joaquim Machado Cândido, director do Serviço de Neurologia do Hospital de São José e responsável pela Unidade Cerebrovascular do mesmo hospital.

«A primeira manifestação da doença é a alteração da memória, da atenção, do humor e dos comportamentos. São doentes que desde muito cedo começam a ter perturbações da memória recente, não sabem o que fizeram pouco tempo antes e apresentam algumas dificuldades de nomeação. O processo evolui progressivamente, a capacidade de memorizar agrava-se e surgem outras alterações, nomeadamente ao nível da linguagem, da marcha e da execução de tarefas», explica o nosso entrevistado. Contudo, o neurologista salienta tratar–se de «um processo de degradação intelectual, progressiva, até à fase final, em que o doente fica totalmente dependente dos outros».
Embora seja uma patologia que varia de indivíduo para indivíduo, o facto de ter uma evolução progressiva inerente significa que aumenta com a idade. Por exemplo, numa fase mais avançada, em que surge a demência, a possibilidade do doente ficar demente é mais elevada aos 80 anos do que aos 50. E, curiosamente, há uma relação entre o agravamento da DA e o nível intelectual da pessoa. Ou seja, um licenciado leva mais tempo a ficar demenciado que um iletrado.
Antes dos doentes perderem as capacidades intelectuais e alcançarem um estado de demência e total incapacidade, deixam de se relacionar socialmente, não se lembram de actos tão básicos como cozinhar ou vestir-se, ficam deprimidos, podem sofrer de alucinações, perturbações no sono e comportamentos não condizentes com os habituais.
«As pessoas começam a ter dificuldades na marcha, na fala, em alimentar-se e, por vezes, podem ter crises epilépticas. Na fase final, a da demência, apresentam uma certa rigidez nos movimentos e uma significativa lentidão na locomoção», indica Joaquim Machado Cândido, referindo-se às consequências físicas da DA e salientando:
«É essencial ter um diagnóstico correcto da doença, pois, existem outras demências que têm tratamento e, por vezes, os doentes só estão deprimidos e não têm DA.»

Alzheimer e Parkinson A debilitação corporal da doença de Alzheimer é uma das características que lembra a doença de Parkinson, ou vice-versa. Mas são distintas. Numa impera a degradação intelectual, noutra a física. «A doença de Parkinson costuma iniciar-se por volta dos 50-55 anos e, ao contrário da DA, não leva a perda das funções nervosas superiores, salvo raras excepções», diz Joaquim Machado Cândido, acrescentando:
«Tem como sintomatologia o tremor, a rigidez corporal, a lentidão motora, instabilidade na postura e uma certa lentidão psíquica. Mas o quadro clínico pode variar de doente para doente.» E continua: «É uma doença que evolui progressivamente, com grandes alterações na postura. A grande diferença entre as duas patologias é que a doença de Parkinson é essencialmente motora e uma doença do corpo, ou seja, as pessoas não perdem as suas capacidades intelectuais e estão conscientes. Porém, alguns doentes podem ter outras doenças com manifestações parkinsónicas que é preciso diagnosticar e tratar.» No fundo, a doença de que o Papa João Paulo II sofre é um processo degenerativo evolutivo, em que os indivíduos vão alterando a postura, ficando cada vez mais em posição de flexão. Os passos são cada vez mais pequenos e a própria escrita torna-se mais reduzida (as letras ficam mais pequenas). «O processo degenerativo da doença de Parkinson pode acompanhar a pessoa durante muitos anos. Tenho casos com 20 anos, em que os doentes ainda têm uma vida autónoma. Já relativamente aos que sofrem de Alzheimer, estima-se que vivam 5 a 10 anos após o inicio da doença», comenta o especialista.
Resultados terapêuticos díspares É o estado terminal do doente que faz com que possa haver confusão entre as duas doenças. De facto, numa é atingido o córtex cerebral e a consequente perda das funções nervosas superiores; noutra, apesar das limitações físicas, a capacidade intelectual não é afectada. Esta é a grande diferença para uma evolução idêntica a nível físico. E até na terapêutica as diferenças são evidentes.
«A DA é um processo degenerativo inexorável. Actualmente, existe uma grande variedade de medicamentos que actuam a nível cerebral, limitando-se a atrasar a evolução da doença», informa o neurologista, sublinhando ser uma patologia não tratável.
E completa: «Apesar de não ter cura, a DP tem uma terapêutica com resultados diferentes, pois, é essencialmente um défice de dopamina e, como tal, existe uma terapêutica substitutiva, que melhora a qualidade de vida do doente.»
Porque o efeito dos fármacos na doença de Alzheimer é diminuto, Joaquim Machado Cândido aconselha os familiares:
«É importante incentivar o doente no sentido de continuar a desenvolver as tarefas possíveis (ler, escrever, actividades da vida diária, etc.), dar-lhe uma certa autonomia e responsabilidade e ajudá-lo a manter uma actividade. Estes casos têm de ser apoiados e não marginalizados.»

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