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Problemáticas familiares

27 Abril, 2008 0

QUE EFEITOS NO FUTURO DE UMA CRIANÇA? O mundo das crianças pode ser bastante complexo. Não basta zelar pelo seu bem-estar físico, outros factores podem ser decisivos no crescimento de uma criança. É imperativo que os pais estejam atentos ao que se passa no interior dos seus filhos.

«De uma maneira geral, desde há algum tempo, as pessoas procuram alguma ajuda, sobretudo no que diz respeito às crianças. Acho que tem havido mais essa procura, porque os pais também estão mais disponíveis para tentar perceber o que é que podem fazer para melhorar a vida dos mais novos, para ajudar os seus filhos», explica o Dr. Pedro Strecht, pedopsiquiatra, que trabalha há já muitos anos com o mundo das problemáticas familiares e as consequências futuras nos mais novos. Sobretudo hoje, os casais têm menos filhos e, por isso, estão mais disponíveis para valorizar o que se passa no mundo interior dos mais novos, «para perceber que grande parte daquilo que é a construção da vida psíquica futura de uma pessoa começa na infância, através da relação emocional da criança com quem a rodeia, nomeadamente, pai e mãe no início», esclarece o especialista. Que problemáticas familiares? As problemáticas variam muito e acabam por afectar as crianças. Se, há muitos anos, a alcoolemia era a principal culpada pela desestruturação de muitas famílias e crianças instáveis, actualmente, surgem outros calcanhares de Aquiles no seio familiar. «Eu diria que, hoje em dia, o problema da toxicodependência é algo que mina muito a família (sobretudo determinado tipo de camadas sociais da nossa população). Também outras situações, como os conflitos e separações traumáticas entre pais», explica o pedopsiquiatra. Os conflitos entre os pais, quando expostos às crianças, podem afectar o seu equilíbrio emocional. Muitos adultos pensam que os mais novos não compreendem o mundo dos mais velhos, que não entendem as palavras, os gritos e gestos. Porém, é completamente errado. Conforme explica Pedro Strecht, «às vezes, há a ideia de que os bebés ou as crianças, quando são muito pequeninas – por não falarem, por não expressarem através da linguagem aquilo que sentem –, não se apercebem das coisas. É importante chamar a atenção dos pais de que as crianças apercebem-se sempre de tudo aquilo que se passa à sua volta, mesmo em idades muito precoces, como a primeira infância».

O especialista continua o seu raciocínio dando exemplos de algumas situações: «Até quando as coisas funcionam bem nós sabemos que um bebé sente a falta da sua mãe. Quando acaba a licença de parto e a mãe começa a deixar o bebé numa ama ou num jardim-de-infância e o vai buscar ao final do dia, o bebé faz de início um certo evitamento do olhar, como que a demonstrar que está um bocadinho zangado, que sentiu a ausência. Isso é um sinal claro de que ele percebeu que houve uma mudança naquela relação afectiva.» As crianças apercebem-se do que se passa, exprimem-se de diversas formas que, por vezes, não são detectadas pelos pais. Alicerces emocionais de uma criança Muitas vezes olhamos para uma pessoa e catalogamo-la como emocionalmente instável. Pessoas problemáticas, com dificuldades de socialização e em conseguirem organizar a sua vida, são consideradas adultos desviantes. Contudo, se investigarmos bem a fundo os casos, percebemos que os problemas começaram na infância. Pedro Strecht refere que «a forma como as crianças se vão moldando, se vão formando – no fundo, como se vão vendo a elas próprias e vendo aquilo que as rodeia –, depende muito da qualidade da relação emocional dos primeiros anos de vida». Nesta altura têm um papel decisivo os progenitores, como explica o pedopsiquiatra: «Os principais modelos que a criança interioriza são os de quem está mais próximo delas no seu dia-a-dia, ou seja, o modelo feminino de mãe e o modelo masculino de pai, ou quem representa estes papéis. É partindo da interiorização destes modelos de relação familiar que a criança vai, depois, repetir outras formas de relação com os outros.» Uma criança segura, com padrões afectivos estáveis, consegue ter, habitualmente, relações de maior investimento, com mais qualidade com os outros. Já uma criança que viva no seio de uma família desestruturada, com situações de padrões extremos muito repetidos, pode vir a dar um adulto problemático. «Não é obrigatório, mas, de facto, o risco aumenta. Porque o crescimento de cada um de nós, como pessoa, é como uma construção, quanto mais sólidos forem os alicerces melhor tudo o que se constrói daí para cima», declara Pedro Strecht.

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