Instituição de solidariedade social apoia jovens grávidas e mães » Aprender a ser mãe
Carla tem 20 anos e um filho de 2 meses. Cátia tem 19 anos e está grávida de 8 meses. Duas histórias de vida diferentes com um ponto em comum: estão a aprender a ser mães. Carla e Cátia são apenas duas jovens, num grupo de 19, que fazem parte da Escola de Mães, um novo projecto da instituição de solidariedade social Ajuda de Mãe. Uma escola que pretende promover a reeducação pessoal e social de jovens grávidas e mães e dos seus filhos.
Mais um dia de escola. Mais uma aula. Mais uma etapa nas suas vidas. Carla e Cátia, tal como as outras jovens, preparam-se para a próxima aula: a massagem de bebés. Uma técnica muito usual nos Estados Unidos da América e em Inglaterra, mas à qual só agora os pediatras portugueses começam a aderir, tendo sido criada recentemente a Associação Internacional de Massagem Infantil.
«Esta técnica traz benefícios tanto ao nível do desenvolvimento, como da tranquilidade dos bebés», esclarece a técnica de saúde Marta Reis Barão, acrescentando que as massagens são «fundamentais» para as cólicas e gases, tão usuais nos bebés.
De acordo com a especialista, estudos realizados demonstram que «os bebés prematuros, a quem é feita a massagem, têm um maior desenvolvimento». Demonstram, ainda, que as massagens são benéficas não só para os bebés, mas também para as mães, «já que fomentam bastante a interacção entre os dois».
Marta entra na sala de aula e as jovens grávidas e mães procuram um lugar para se sentar. Carla está com o seu filho ao colo, o Gonçalo. Cátia, por seu turno, segura um boneco onde vai praticar as massagens para posteriormente fazer na Maria Helena. Umas mais atentas do que outras. Umas mais motivadas do que outras, lá vão ouvindo e seguindo as explicações de Marta.
«Apesar de desconhecerem esta técnica, elas estão a aceitar muito bem», sublinha a técnica de saúde.
Primeiro começa-se com uma breve revisão. «Decidi dividir a massagem em quatro aulas para não cansar muito os bebés», explica Marta Reis Barão, sublinhando que depois a massagem faz-se em 10 minutos. E explica: «Começamos pelos membros inferiores. Depois a barriga, o peito e os braços.
E, por fim, o rosto e as costas». Enquanto vai fazendo a revisão, Marta relembra as jovens e futuras mães da importância de falarem com os seus bebés.
«Temos que pedir sempre autorização ao nosso filho para fazer a massagem» sublinha a técnica, garantindo que «se falarem com ele e puserem a mão em cima dele, o bebé acalma».
Enquanto a reportagem decorre, as jovens aprendem a fazer a massagem na cara e nas costas. Marta vai explicando o que fazer, enquanto vai enunciando também os benefícios da mesma.
«Por exemplo, a massagem facial é muito importante para aliviar a tensão do choro», frisa. Carla e Cátia ouvem as indicações e seguem as instruções. Os bebés parecem gostar. E Gonçalo não é excepção. Alguns choramingam um pouco, acalmando logo de seguida. A aula termina. Arrumam-se as coisas. Está na hora do almoço.
Histórias de vida
Um dia Carla descobriu que estava grávida. Uma gravidez não planeada. Não desejada.
«Quando soube que estava grávida fiquei surpreendida, mas nunca pensei em abortar», afiança.
Carla reagiu bem. A mãe, com quem vive, também. Quem não reagiu muito bem à notícia foi o pai do Gonçalo, de 21 anos.
«Quando soube que estava grávida tínhamos terminado o namoro há pouco tempo», relembra Carla, acrescentando que, «na altura, falei com ele e ele disse-
-me que não estava preparado para ter filhos e que queria que eu abortasse».
Apesar disso, garante, falou com ele várias vezes durante a gravidez, com o intuito de convencê-lo a mudar de opinião.
«Mostrei-lhe as ecografias, inclusive quando soube que era um menino, mas ele nunca mostrou interesse», lamenta.
Gonçalo tem quase 2 meses e ainda não conhece o pai. Pior. «Ele nem quis reconhecer a paternidade e, por isso, está a decorrer um processo em tribunal», conta.
Apesar de tudo, Carla não guarda rancor e acredita que um dia ele vai mudar de ideias: «Gostava que ele seguisse a educação do nosso filho, não por mim, porque não há hipótese de reconciliação, mas pelo Gonçalo».
Por essa razão, Carla diz que vai continuar a fazer o que tiver ao seu alcance e «quando o Gonçalo crescer vou contar-lhe quem é o pai, independentemente de ele mudar de atitude ou não».
Quando questionada porque é que engravidou responde prontamente que «o preservativo rompeu-se», esclarecendo que não foi por falta de informação. Considera, no entanto, que a educação sexual nas escolas é insuficiente e que em casa «os pais têm ainda vergonha de falar com os seus filhos».
Em relação ao futuro, Carla sabe muito bem o que quer fazer: trabalhar com crianças.
«Só tenho o 8.º Ano, por isso, vou fazer primeiro uns testes para ficar com o 9.º Ano. Depois quero tirar um curso de acompanhante de crianças e a seguir tentar estagiar», diz.
Mas, por enquanto, Carla encontra-se na Escola de Mães. Um projecto que considera muito positivo «porque ajuda-nos a nível psicológico e porque convivemos com pessoas que estão mais ou menos na mesma situação, o que permite ajudarmo–nos mutuamente».
A história de Cátia é muito diferente. Com apenas 19 anos decidiu ser mãe e espera ansiosamente pelo nascimento de Maria Helena. Quando questionada porque decidiu ser mãe tão nova, responde que foi «porque, se calhar, não tinha muita liberdade». Cátia vivia com a mãe a as irmãs quando conheceu o Luís na escola. A idade de Luís, actualmente com 34 anos, levou-os a namorar às escondidas.
Entretanto, «a minha mãe descobriu que eu namorava e zangou-se comigo por ele ser mais velho. E disse que se engravidasse punha-me na rua». Na altura, Cátia já estava grávida e, por isso, decidiu ir viver com o Luís.