Infertilidade: E a cegonha que nunca mais chega…
Calcula-se que haja em Portugal 300 mil casais para quem ter um filho é um desejo adiado por via da infertilidade. Ainda que em idade reprodutiva, não conseguem uma gravidez, tendo de recorrer à ciência para dar uma ajuda.
Dizia-se em tempos que os bebés vinham no bico da cegonha. Assim era para explicar aos mais pequenos como tinham nascido ou como nasciam os irmãos, quando falar sobre a vida sexual e a reprodução humana ainda era um tabu. Hoje, para muitos casais, a cegonha foi substituída pelas técnicas da reprodução medicamente assistida: é o que acontece quando o desejo de ter uma família não acontece naturalmente, através de relações sexuais, devido à existência de um problema de infertilidade.
E considera-se infertilidade quando existe incapacidade de conceber ao fim de pelo menos um ano de relações sexuais sem contracepção. Não significa necessariamente incapacidade reprodutiva, mas sim uma dificuldade acrescida face aos casais férteis.
Na verdade, ao contrário do que possa parecer, a reprodução humana não é propriamente um processo simples.
Para que haja uma gravidez, é preciso que tudo corra bem nos mecanismos da ovulação e da fertilização. Há um conjunto de acontecimentos que se desenrolam em cadeia, bastando que um elo não funcione correctamente para adiar o momento da concepção.
Na mulher, tudo começa ao nível do cérebro, com a glândula pituitária a enviar todos os meses um sinal para que os ovários preparem um ovo para a ovulação. Essa preparação dá-se por influência de duas hormonas, que estimulam os ovários.
A ovulação acontece, na maioria das mulheres, ao 14º dia do ciclo menstrual, com o ovo a ser libertado pelos ovários e capturado por uma trompa de Falópio. Aí permanece viável por 24 horas, se bem que a melhor altura para ser fertilizado é nas 12 horas seguintes à ovulação. E a fertilização acontece se entretanto um espermatozóide o alcançar. Se esta união se concretiza, o ovo movimenta-se em direcção ao útero, onde se desenvolve a gravidez.
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Causas femininas
Do ponto de vista da mulher, são várias as causas da infertilidade: da existência de lesões ou bloqueios nas trompas à endometriose, passando por desordens ovulatórias, prolactina elevada, ovário poliquístico, menopausa precoce, fibróide uterina benigna e adesões pélvicas.
Mas há outras, como o uso de determinados medicamentos, a existência de deficiências ao nível da tiróide, o tratamento a cancros no sistema reprodutor e doenças como o HIV /Sida ou a diabetes.
A estes factores junta-se o risco próprio associado à idade, ao peso e a determinados hábitos: sabe-se, por exemplo, que as mulheres que fumam podem ver reduzidas as suas probabilidades de conceber, sendo os abortos mais frequentes; sabe-se também que não existe uma quantidade de álcool segura quando se pretende engravidar; e que o excesso de peso pode afectar a ovulação.
O mesmo pode acontecer com as mulheres que seguem uma dieta demasiado restritiva ou que sofrem de desordens alimentares como a anorexia e a bulimia, bem como com as que são sujeitas a um esforço físico intenso, com as desportistas, em que são frequentes as irregularidades menstruais.