Sexualidades
As Sexualidades – no plural, pelos motivos que a seguir são abordados – têm uma base e um desenvolvimento biológicos, que quando completos geram uma diversidade de comportamentos e atitudes, que exigem um “controle” social, ao qual damos o nome de cultura.
As diversas formas de expressão cultural das sexualidades determinam crenças, valores e reacções em relação às mesmas.
A própria Medicina já foi, e ainda é influenciada por factores culturais, na forma como ela lida com assuntos ligados à sexualidade.
No que respeita ao tema, são abordados os seguintes tópicos:
– desenvolvimento biológico
– identidade sexual x orientação sexual
– fases do desempenho sexual e sexo “normal” “fantasias sexuais” e transtornos da sexualidade
1. Desenvolvimento biológico:
Após a fecundação, quando um espermatozóide encontra um óvulo, dá-se início ao processo de desenvolvimento embrionário geral e também o ligado ao sexo.
Nesta etapa, estabelece-se o assim chamado sexo cromossómico, onde o óvulo contribui com um cromossoma X, e o espermatozóide com um cromossoma, ou X, ou Y.
Se a união for de um cromossoma X, com outro X, o desenvolvimento sexual dá-se no sentido de formar um embrião com características compatíveis com o sexo anatómico feminino; se for de um cromossoma X, com um Y, a possibilidade é a de se formar um embrião com características sexuais anatómicas masculinas.
Porquê esta pequena em cima referida?
A definição cromossómica sexual, é necessária, mas não é a única responsável pela definição anatómica do sexo.
Para o pleno desenvolvimento do sexo pré-programado genética e cromossomicamente, inter-agem factores que se poderão chamar de hormonais, para a definição completa do aparelho sexual anatómico em feminino ou masculino.
Com isto, teremos então, a definição de sexo gonadal, ou seja, não basta ter cromossomas XX, ou XY para a definição anatómica do sexo; também será necessária uma definição hormonal, que é dependente da libertação de factores humorais libertados no processo de diferenciação embrionária, para a condução de uma definição anatómica masculina ou feminina.
2. Identidade sexual x Orientação sexual:
Nascida, ou mesmo antes de nascer, surge a expectativa dos pais em relação ao sexo da criança.
Actualmente, com os avanços da ultrassonografia (ecografia), os pais têm a possibilidade de saber o sexo anatómico da criança meses antes do nascimento; assim, vai ser mais fácil decidir se o bebé se vai orientar para o clube de futebol do pai, do avô paterno, ou materno, ou se for uma menina vai ter uma boneca ou um ursinho na porta do quarto da maternidade.
Esta expectativa não é nem boa, nem má, simplesmente define social e culturalmente um papel para o recém nascido.
Assim, esta criança, com o aparelho anatómico sexual definido – e também a questão jurídica, porque quando nascemos, somos registados com um nome e um sexo que nos define para o resto da vida, algo como uma “patente” que nos é transmitida – começamos a ter um relacionamento com o mundo que nos envolve, adoptando, e sendo incentivados a adoptar, ou simplesmente sendo obrigados a adoptar padrões de comportamento cultural e socialmente definidos como masculinos ou femininos, e portanto passamo-nos a identificar com eles, criando o que chamamos de identidade sexual, que nada mais é do que a capacidade que temos de nos definirmos como masculinos ou femininos, já que nos reconhecemos como homens ou mulheres. Este processo inicia-se na infância e prolonga-se até ao final da adolescência.
Com as mudanças comportamentais ocorridas nos nossos meios culturais e nas últimas décadas, determinados padrões tornaram-se mais subtis, mas mesmo assim continuam rígidos, principalmente se comparados com outros grupos humanos, onde a presença de um terceiro sexo, ou sexo indefinido é considerada.
Portanto, é possível pessoas pertencentes a um determinado sexo anatómico, considerarem-se psicologicamente de outro sexo; por exemplo: um indivíduo considerado anatomicamente do sexo masculino (possuidor de pénis, testículos, vesícula seminal, etc…, e com funcionamento normal), criado como homem, sentir-se e querer ser uma mulher; tais indivíduos, chamados de trans-sexuais, não obtêm prazer sexual com os órgãos anatómicos do sexo correspondente – o homem trans-sexual não vê no pénis um órgão sexual, nem tem prazer com ele: vê o pénis como um apêndice inútil; o mesmo se dá também com a mulher trans-sexual em relação à vagina. Estes são considerados casos de transtornos de identidade sexual.
Definido o grupo sexual ao qual pertencemos e nos identificamos, resta-nos definir o objecto ao qual vamos dirigir os nossos impulsos sexuais.