Quinze por cento da população portuguesa tem fígado gordo » Segunda causa de consulta de Hepatologia - Médicos de Portugal

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Quinze por cento da população portuguesa tem fígado gordo » Segunda causa de consulta de Hepatologia

1 Novembro, 2004 0

Um número progressivamente crescente de portugueses já ouviu o seu médico dizer «O senhor tem um fígado gordo» ou se for um especialista «O senhor tem um NASH». Estupefacto, pergunta: «Nunca ouvi falar, o que é, doutor?». Segue-se a explicação de que é uma doença prevalecente nos países industria­lizados, é mais frequente em indivíduos obesos, com diabetes, sobretudo a diabetes tipo II, e que têm hiperlipidemia (valores elevados do colesterol e triglicéridos no sangue). Depois, o especialista informa o que é a esteato-hepatite não alcoólica (NASH = Non Alcoholic SteatoHepatitis), ou, de uma forma mais simples, um fígado que acumulou gordura nas células hepáticas («fígado gordo») e que inflamou.

De facto, a doença hepática associada ao fígado gordo pode resultar de um consumo excessivo de bebidas alcoólicas, mas também aparece em pessoas que nunca bebe­ram ou bebem em quantidades mínimas (é o fígado gordo não alcoólico). Só uma proporção menor de doentes com fígado gordo têm NASH, que é uma forma mais agressiva que poderá evoluir para cirrose.

Os médicos hepatologistas estão preo­cupados e alertam para o risco desta patologia estar a aumentar em Portugal.

Para o Prof. Miguel Carneiro de Moura, director do Serviço de Gastrenterologia e da Unidade de Hepatologia do Hospital de Santa Maria, «uma estimativa é que 15% dos adultos na população tenha fígado gordo, o que para Portugal indicaria aproximadamente 1.200.000 casos, dos quais 200.000 a 300.000 teriam as formas mais graves da doença (esteato-hepatite) e poderiam evolucionar para cirrose hepática (10-20%)».

Foi com esta preocupação que especia­listas nacionais e internacionais apresentaram as últimas investigações biológicas e clínicas durante a Conferência Europeia da Esteato-hepatite Não Alcoólica, organi­zada pela Associação Europeia para o Estudo do Fígado, nos dias 17 e 18 de Setembro, no Hotel Palácio, no Estoril.

Investigar as causas
não esclarecidas

A causa e os mecanismos de produção da doença não são ainda bem-conhecidos. Contudo, há diversos factores aos quais se associa o fígado gordo não alcoólico, nomeadamente, nutricionais (obesidade, desnutrição), endócrinos (diabetes, dislipidemias) e tóxicos (alguns medicamentos).

Nas pessoas que não bebem álcool em quantidade excessiva, não é claro como se acumula a gordura nas células hepáticas. A gordura entra para o fígado através da dieta ou da gordura acumulada no tecido adiposo. Em condições normais, a gordura da dieta é metabolizada pelo fígado. Se a quantidade excede a necessária pelo organismo, a gordura acumula-se no tecido adiposo. Existem alterações metabólicas, de possível causa genética, ou induzidas por certos medicamentos ou por outras doenças metabólicas, que podem alterar a regulação do metabolismo da gordura no fígado e causar a sua acumulação ou, eventualmente, aumentar a sua produção.

Miguel Carneiro de Moura, que foi também o presidente desta conferência, explicou que, actualmente, nesta área se faz muita investigação para encontrar agentes que possam corrigir os defeitos metabólicos e eliminar os depósitos de gordura hepática.

«O nosso grupo de investigação, no Hospital Santa Maria e na Faculdade de Medicina de Lisboa, foi dos primeiros a demonstrar o aumento da insulina no sangue periférico destes doentes (um marcador da insulinorresistência) e a incluir o fígado gordo no que hoje se designa por síndrome metabólica», afirmou, durante o evento.

Entretanto, observações mais recentes, em colaboração com a Faculdade de Farmácia de Lisboa, publicadas no número de Setembro da revista American Journal of Gastroenterology, sugerem novos alvos terapêuticos para esta doença.

Todavia, ainda não existe nenhum tratamento específico para o fígado gordo.

A re­comendação actual é tratar as doenças associadas, como a obesidade, a diabetes e a dislipidemia. Aliás, perder peso é o mais importante no tratamento destes doentes.

Devem, ainda, adoptar-se medidas que conduzam à regressão ou que evitem a evolução para situações mais graves de inflamação hepática ou a cirrose.

É importante conseguir uma alteração no comportamento no sentido de uma vida mais saudável, o que passa essencialmente por uma alimentação equilibrada e perder peso. O exercício físico juntamente com a dieta permite prevenir a obesidade e pode diminuir o fígado gordo. Deve haver também o cuidado de evitar o consumo de bebidas alcoólicas ou a ingestão de medicamentos que possam ser tóxicos para o fígado, como certos antibióticos, corticosteróides e certos antiarrítmicos.

Os resultados de investigações em curso, que foram apresentadas na Conferência Europeia do Estoril, indicam que o uso de certos medicamentos (metformina e as tiazolidonas) podem melhorar a doença hepática.

Prevenção do fígado gordo

A melhor defesa para evitar o fígado gordo é manter um peso saudável e ter valores normais de açúcar (glicemia), colesterol e triglicéridos no sangue. Esta estratégia, associada ao consumo mode­rado de bebidas alcoólicas e a ingestão de substâncias, que podem ser tóxicas para o fígado, pode reduzir o risco da doença hepática.

Diagnóstico acidental

A gordura no fígado muitas vezes não produz sintomas, porque o depósito é geralmente lento. Deste modo, o fígado gordo detecta-se como um achado acidental de uma ecografia hepática ou porque aparecem enzimas hepáticas (transaminases) elevadas no sangue num exame de rotina ou numa investigação por outra doença.

Acontece que a situação pode não ser valorizada inicialmente pelo médico ou pelo doente e só muito mais tarde aparecem as manifestações de doença hepática crónica.

Convém salientar que a maioria dos doentes não tem sintomas ou raramente se queixa de cansaço ou dor no quadrante superior direito do abdómen.

O diagnóstico de certeza implica uma biopsia hepática.

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