Helena Raposo, mãe aos 16 anos » “Fui discriminada, mas não hesitei e hoje tenho uma família muito bonita”
Helena Raposo abriu-nos as portas da sua casa para nos apresentar a sua família, bem-disposta e feliz! Mãe aos 16 anos, quando era estudante, confessa-nos que na altura foi “discriminada, mas não hesitei e segui em frente”. Hoje, com 55 anos, tem quatro filhos e dois netos.
Duas das suas filhas “seguiram-lhe o exemplo” e, também elas, decidiram ter filhos relativamente cedo, o que acabou por não ser um grande choque. “Elas tiveram sempre a opção de escolher aquilo que era melhor para as suas vidas”, diz-nos.
Grávida aos 16 anos!
Helena Raposo estudava quando engravidou pela primeira vez. Os tempos eram outros e, no colégio onde andava, não admitiam estudantes casadas, o que a levou a ter de desistir: “Faltava-me um ano para acabar o curso de secretariado”. Foram muitas as pessoas que defendiam o aborto, mas Helena não se deixou influenciar e teve a sua primeira filha, apesar dos comentários e discriminações. “Tenho uma família bonita e muito bem formada, para ter tomado essa opção, caso contrário nunca a tomaria”, diz-nos. Como consequência da decisão, Helena afirma ter crescido muito rapidamente porque “ fui obrigada…”.
Actualmente, considera a filha mais velha, com 39 anos, uma irmã e a relação entre ambas é “muito mais próxima”. Defende que “o relacionamento de uma mãe jovem é completamente diferente de uma mãe adulta e mais madura”.
De mãe a avó…
Ana Margarida é a filha mais velha de Helena. Trata-a carinhosamente por “Nica” e também ela foi mãe muito nova. Tinha 19 anos quando soube da notícia. “Quando comuniquei aos meus pais, a minha opção já estava tomada, comigo e com o pai do meu filho. Ao tomar a decisão de ter o Miguel, já tinha tomado a consciência de que iríamos ter os mínimos meios aceitáveis para, como família, estarmos juntos e termos subsistência. Informei-me, tive conversas sobre o caminho que havia de seguir, mas a opção estava tomada”. “Não voltei a engravidar por motivos de saúde”, diz-nos.
Joana tem 24 anos, é uma das irmãs de Ana Margarida. Em comum, têm o facto de terem optado por ser mães jovens. Joana também teve de comunicar à sua mãe que estava grávida aos 20 anos de idade. A reacção não foi negativa. “Não foi um choque para mim terem sido mães novas. Claro que pensamos sempre que essa situação dificulta a continuação dos estudos. No entanto, tiveram sempre a opção de escolher aquilo que era melhor para as suas vidas”.
Joana não tinha planeado engravidar tão cedo. Pelo contrário, sempre julgou que o faria “quando tivesse a vida mais organizada”. Ao contrário da mãe, afirma que não teve de abdicar de muita coisa por ter engravidado.
“Atrasei os estudos, mas por minha escolha e não por estar grávida. Se não tivesse o apoio da família, sei que não teria continuado a estudar e não teria facilitado tanto as escolhas que fiz no sentido de continuar a ter planos para a minha vida”.
Os tabus da sociedade
“Considero que há muita falta de abertura e a sociedade continua a pensar que os jovens aos 14, 15 anos, ainda não vão dormir com alguém. Este é um erro enorme porque isto é normalíssimo. Mais beijo, menos beijo… o prazer vem logo a seguir!”, afirma Helena Raposo.
Ana Margarida partilha da mesma opinião e alerta para “a falta de educação sexual ao mais puro nível” no nosso país. E acrescenta: “ainda há muitos tabus e estigmas. Ainda assistimos a muitos complexos dos jovens irem a uma farmácia pedir conselhos. Ou então, vão à farmácia e olham para o lado para ver se não há mais ninguém.
Não se fala abertamente. A questão da sexualidade entre os jovens é um facto consumado e ninguém pode fugir a isso. No entanto, Helena considera que, actualmente, é muito mais fácil falar do tema da sexualidade do que há 20 anos atrás. “ No outro dia, deram-me preservativos e eu distribuí-os pela família”, conclui.
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