Aborto e Auto-estima
Aborto define-se, geralmente, como a terminação de uma gravidez antes que o feto tenha atingido a viabilidade, ou seja, antes de ter a capacidade de sobrevivência sem grandes riscos.
Existem duas grandes categorias de aborto, são eles o aborto induzido ou provocado e o aborto espontâneo. No primeiro caso, o aborto induzido como o seu próprio nome indica, é provocado voluntariamente, com a intenção de interromper a gravidez, de não querer ser mãe, independentemente dos motivos pessoais, familiares, sociais ou económicos que estejam presentes implícita ou explícitamente como motivo de tal decisão.
Mas quando se está a falar de aborto espontâneo, falamos da interrupção e términus da gravidez sem que seja essa a vontade e desejo da mulher.
E neste caso, muitas vezes consequência de anomalia física do feto e do seu normal desenvolvimento, é sentido como grande perda. As reacções negativas a um aborto espontâneo serão tanto mais intensas e dolorosas quanto mais desejada é a gravidez e como tal alvo de grande investimento emocional.
A mulher grávida que perde o seu bébé, experencia um leque de sentimentos que passam pela tristeza, angústia, em situações mais graves pode levar à depressão, isolamento, culpabilização, ou seja, todo um conjunto de sintomas de perturbação psico-emocional em que a auto-estima é um dos aspectos afectados.
Falar de auto-estima é referir a avaliação global que cada sujeito faz das suas qualidades, possuindo uma componente fundamentalmente afectiva. Os sentimentos e atitudes em relação ao próprio, variam consoante as situações em que o sujeito se envolve e se vê envolvido.
A auto-estima resulta de uma percepção da competência que o sujeito tem nas diversas dimensões da sua existência. Podendo ser considerada como a relação do nível de aspiração do sujeito e o seu nível de sucesso, ou seja, aquilo que se é ou faz e aquilo que se deseja.
Perante o acontecimento de perda de um bébé por aborto espontâneo, a auto-estima da mulher encontra-se totalmente abalada, reduzida, quase que aniquilada, pois a sua aspiração como mãe não se concretizou.
Durante todo o período de gravidez, a futura mamã idealiza o bébé que vai nascer, se será parecido com a mãe ou com o pai, como vai ser a própria mulher a desempenhar o papel de mãe, todas estas situações são imaginadas, pois está-se a criar o bébé ideal, aquele que é idealizado pela mãe. E esta idealização é cruelmente destruída pelo fim da existência física do ser que se deseja.
Este facto é bastante perturbador, na medida em que a mulher sente tal acontecimento como um veloz ataque à sua capacidade de protecção do bébé e da realização dos seus desejos como mãe.
O mundo afectivo e emocional da mulher fica destituído de esperança e desejo e passa a ser reinado por um sentimento de menos valia, de desvalorização e de incapacidade. Porque é dificil aceitar a perda do bébé tão esperado e desejado, não podendo a mãe fazer nada perante tal situação. É um sentimento de impotência que invade a sua existência…
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