Exercício e obesidade na criança
O flagelo mundial da obesidade infantil/ juvenil alastra-se a uma velocidade preocupante. Portugal é o país da União Europeia que apresenta a percentagem mais elevada de crianças obesas entre os 7 e 11 anos (mais de 10%), sendo que 30% das crianças portuguesas tem excesso de peso. As razões são fáceis de compreender.
Observa-se um consumo exagerado de produtos de reduzido valor nutricional e elevada densidade calórica (refrigerantes, produtos de pastelaria, snacks, gelados, fast food, etc.). Ao mesmo tempo existe um défice no consumo de sopa, legumes, fruta, hortaliças e cereais completos. Come-se muito e com pouca qualidade nutritiva.
Portugal apresenta os maiores níveis de inactividade física da União Europeia. A actividade física das crianças é muito escassa e as horas passadas em frente à televisão e a jogar vídeo jogos são demasiadas. Os habituais jogos de rua desapareceram, as escadas são substituídas pelo elevador, a caminhada de ida e volta para a escola foi substituída pelo automóvel.
No que diz respeito às recomendações para a prática de exercício físico, o American College of Sports Medicine (ACSM) aconselha as crianças a acumularem um total mínimo de 60 minutos de actividade física de intensidade moderada a elevada (devendo esta ser repartida ao longo do dia) em todos os dias da semana. É fundamental ser flexível na interpretação destas directrizes!
Comecemos por desmistificar a questão do tempo. O facto de uma criança necessitar de 60 minutos de actividade física, não significa que terá de realizá-la toda de uma vez. Períodos de 5, 10, 15, 20 minutos ao longo do dia farão o mesmo efeito. Para crianças que são inactivas começar por períodos mais curtos é mesmo a melhor opção.
O papel da actividade física
Um ponto-chave que importa reter: a criança não está preparada para realizar a actividade física (informal), ou exercício físico (formal) típico de um adulto. Actividades como longas corridas/ caminhadas, usar a passadeira do ginásio, a bicicleta estática, treino de força com pesos e/ ou máquinas de musculação devem ser evitadas. A palavra-chave é diversão! São as actividades que as crianças gostam, escolhidas livremente, que devem ser encorajadas e constituem a melhor opção. Desta forma mais facilmente a criança se motiva para adquirir os comportamentos desejados de uma forma regular e duradoira.
Toda a actividade física conta e não apenas os momentos formais de exercício físico. Exemplos como lavar o carro, ajudar na lida da casa, dar um passeio ao jardim zoológico com a família, uma “voltinha” de bicicleta, dançar, praticar jardinagem, subir um lanço de escadas, saltar à corda, jogar à apanhada, etc.
Este tipo de actividades tem-se revelado mais eficaz a médio/ longo prazo do que a promoção isolada de exercício físico organizado. Isto pode dever-se ao facto das actividades informais terem um maior grau de sucesso, sendo menos ameaçadoras para a criança. Além disso são muito mais fáceis de incorporar na rotina diária já que podem ser realizadas a qualquer altura.
Como é óbvio o papel da família é fundamental para que a criança faça da actividade física um estilo de vida intrínseco. Crianças com pais activos têm seis vezes mais probabilidades de desenvolverem também uma actividade física regular. No fundo devemo-nos focar em ajudar as crianças a serem mais activas, fazê-las encontrar algo que gostem de fazer e que implique movimento. Motivar um jovem atleta não é o mesmo que conseguir motivar uma criança obesa a ser mais activa.
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