Escola Europeia de Medicina Interna: Médicos preocupam-se demasiado com o doente mas esquecem da pessoa

A Medicina ocidental tem demonstrado muito interesse pelos pacientes, sem ter em conta que atrás de cada um deles está uma pessoa. Esta reflexão vai ser o ponto de partida para a conferência de abertura da 9.ª Escola Europeia de Medicina Interna, quinta-feira, dia 31 de Agosto, às 10h00, em Sintra apresentada por Jaime Merino, o médico e professor que fundou e dirigiu as oito anteriores edições deste evento, em Alicante, Espanha.

Para Jaime Merino, esta situação deu origem, na actualidade, à “Síndrome do Descrédito Médico”, descrita como “um estado que afecta alguns médicos, e em que os doentes questionam a capacidade dos clínicos enquanto profissionais competentes para promover o tratamento e a cura”.

A solução passa por “valorizar a relação equilibrada entre o médico e a pessoa, desde os bancos da faculdade”, algo para o que os médicos internistas estão particularmente vocacionados. Jaime Merino vai propor que se estabeleça “um laço baseado na confiança”, sugerindo que os médicos sejam “mais assessores do que decisores e que melhorem a sua comunicação, ouvindo mais e colocando-se no lugar do outro”.

Os médicos do séc. XXI devem adaptar-se às necessidades actuais e “não voltar a cometer o principal erro da Medicina no século passado, que foi o de permitir a destruição da relação directa com o doente, fruto das novas tecnologias, que fazem com que os pacientes passem mais tempo com máquinas do que com os médicos”.

Esta mudança de atitude é determinante, pois “quando uma pessoa se dirige a um hospital já está numa situação de desvantagem, ao enfrentar um médico investido do poder que lhe é conferido pela bata branca, pelos seus instrumentos de trabalho e pelos termos indecifráveis que usa. Os médicos têm tomado decisões pouco ou nada se importando com a visão do doente”.

Se dantes os pacientes eram tidos como ignorantes – face ao médico, que detinha o conhecimento – hoje são muitos os que já não aceitam ser um sujeito passivo na resolução dos seus próprios problemas de saúde.

Por outro lado, os médicos têm de suportar muitas horas de trabalho consecutivas, rendimentos menos atractivos que noutros tempos, e tiveram de assumir papéis que não lhes competiam para suprir as necessidades e insuficiências do sistema.

Para Jaime Merino, a dependência de determinações nem sempre tomadas pelos decisores mais competentes, as horas passadas a atender dezenas de pessoas, cada uma com expectativas elevadas, e as idas aos tribunais para responder a acusações muitas vezes infundadas, contribuem para o descrédito, que pode converter-se numa enorme sensação de frustração, que é muito difícil de reverter.

No final desta sessão, dirigida a jovens médicos internos de 20 países, Jaime Merino estará disponível para contactos com a Comunicação Social.

No site http://esim.spmi.pt encontra-se toda a informação relativa a este evento.

• Escola Europeia de Medicina Interna

• Conferência Inaugural – A “Síndrome do Descrédito Médico” (a seguir à Cerimónia de Boas-Vindas)

• Quinta-feira, 31 de Agosto, às 10h00

• Academia da Força Aérea, Granja do Marquês, Sintra

Sobre a SPMI

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna é uma das maiores sociedades médicas portuguesas, com cerca de 1500 membros. Foi fundada em 1951 e desde então tem vindo a promover o desenvolvimento da Medicina Interna, nomeadamente através do estudo e da investigação de problemas científicos.

Sobre a Escola Europeia de Medicina Interna

Os cursos da Escola Europeia de Medicina Interna nasceram em Alicante, Espanha, sob a coordenação do professor Jaime Merino. Este evento anual junta várias dezenas de jovens médicos de toda a Europa e não só, criando uma oportunidade rara para trocar experiências e promover o conhecimento avançado na área da Medicina Interna.

Tendo sido realizado oito cursos em Espanha, foi decidido que a 9.ª e 10.ª edições se realizariam noutro país, tendo a escolha recaído sobre Portugal, por iniciativa da SPMI, que organiza os cursos da ESIM em 2006 e 2007. O director da Escola Europeia de Medicina Interna é o médico Internista António Martins Baptista, secretário-geral da SPMI.