Apêndice: Órgão inútil?
A ciência médica está há muito habituada a lidar com este problema que afecta uma em cada 500 pessoas e que consiste na inflamação do apêndice, o qual tem sido considerado como um órgão inútil.
Uma simples dor na região do estômago, ou junto ao umbigo, pode não ser um problema grave, sobretudo se desaparecer rapidamente e não se repetir. Mas, atenção, porque se a dor se situar ou irradiar para o lado inferior direito do abdómen, e se mantiver durante algumas horas ou se tornar mais aguda e intensa, então é bem possível que uma das hipóteses seja apendicite. Principalmente se esta for acompanhada por náuseas, vómitos e perturbações intestinais. Se for esse o caso, convém não perder tempo.
Mas, não há motivos para desesperar. Na verdade, dada a evolução da medicina, a apendicite é hoje encarada como uma doença algo vulgar. No entanto, se não for tratada a tempo, pode ter consequências da maior gravidade, podendo mesmo causar a morte.
O apêndice é uma pequena parte do início do intestino grosso, que forma uma espécie de bolsa parecida com um dedo. Embora não se saiba com certeza qual é a sua utilidade e função, parece contribuir para as defesas imunitárias a nível intestinal, dada a sua riqueza em folículos linfóides.
Sala de operações
A apendicite ocorre quando há obstrução do estreito canal interior do apêndice, que pode ser causada por material fecal ou por hiperplasia dos folículos linfoides submucosos, secundária a uma infecção viral no tracto digestivo, respiratório, sarampo ou mononucleose. Embora existam outras causas, estas são consideradas as mais frequentes. Esta obstrução origina distensão do apêndice por acumulação de fluidos no seu interior. A mucosa fica também edemaciada (inchada). É uma inflamação aguda.
A inflamação pode evoluir para uma infecção e, em casos mais avançados, estar ainda na origem de uma ruptura no apêndice. Dado o risco de ruptura, a apendicite é considerada como uma situação de emergência. Recorrer imediatamente ao médico é, não só a melhor, mas a única coisa que se deve e pode fazer.
O diagnóstico da apendicite baseia-se na presença de sintomas característicos e no exame físico. Recorre-se também a exames auxiliares de diagnóstico. Estes incluem testes sanguíneos para a verificação de possíveis sinais de infecção ou inflamação denunciados por uma alta contagem de glóbulos brancos e elevação da PCR.
O exame implica ainda a realização de análises à urina para detectar uma hipotética infecção do tracto urinário. Em alguns casos, usam-se já os ultra-sons ou TAC para verificar se o apêndice se encontra inflamado. Quando é diagnosticada uma apendicite, o tratamento consiste na remoção cirúrgica do apêndice, uma intervenção que é designada por apendicectomia.
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Recentemente, começou a recorrer-se a uma técnica de intervenção que, entre outras vantagens, permite que o doente não fique marcado com uma cicatriz. Esta nova técnica, conhecida pela designação de cirurgia laparoscópica para apendicectomia, consiste na execução de vários pequenos cortes no abdómen, através dos quais se insere uma pequena câmara e os instrumentos cirúrgicos. O cirurgião pode assim extrair o apêndice com esses instrumentos sem que seja necessário fazer uma grande incisão no abdómen, como até hoje se fazia e de que resultava a cicatriz visível no lado direito do abdómen do paciente.