Cuidar de doentes de Alzheimer - Médicos de Portugal

A carregar...

Cuidar de doentes de Alzheimer

13 Agosto, 2007 0

Licenciada em Educação Especial, Olga Simões, de 67 anos, dedica-se agora a uma outra actividade. É cuidadora, neste caso, do seu marido, que sofre de doença de Alzheimer.

Olga lembra-se que tudo começou por pequenos acontecimentos que lhe provocaram alguma estranheza. «O meu marido tinha uma memória visual e auditiva extraordinária. Escrevia lindamente e, além de ter sido o director dos Serviços de Meteorologia em Macau, foi também professor de matemática. Mas, a certa altura, apercebeu-se que se esquecia facilmente das coisas. Foi ele que teve a iniciativa de consultar um médico.»

Nessa consulta, o especialista tranquilizou o casal e pediu apenas que tomassem atenção ao que fosse surgindo de diferente.

A verdade é que o tempo foi decorrendo e, em 2000, Olga volta a notar situações estranhas relativamente ao seu marido.

«Na altura, ele ainda dava aulas e lembro-me que se levantava bastante cedo, por volta das cinco da manhã, e passava o tempo a resolver os problemas de matemática. Era uma preocupação que não era habitual. Nunca chegou a dizer-me, mas penso que o que se passava é que ele próprio tinha consciência de algumas falhas que aconteciam consigo.»

Preocupada com a situação, sensibilizou o marido para consultar um neurologista. O veredicto da doença de Alzheimer acaba por chegar e revela-se num choque para o casal.

Imediatamente, procurou ajuda e informou-se junto da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer (APFADA) para ter um maior conhecimento de causa sobre a doença. Com o marido, manteve sempre uma postura de diálogo.

«Tornei-me sócia da Associação e julgo que dão uma ajuda imprescindível para todas as pessoas.»

Consciente da sua doença, o marido opta por desistir de dar aulas. Era, sem dúvida, a melhor atitude, porém, a mesma desencadeou um enorme desgosto por ter sido sempre uma pessoa extremamente activa e que agora não se sentia apta.

Mas o verdadeiro choque chega mais tarde… «A pouco e pouco é que vamos vendo a degradação e isso é um choque terrível, mesmo apesar de nos sentirmos preparados.»

A dada altura, fazia pastas e pastas de recortes de várias revistas sem ligação nenhuma e comprava muitos livros ou outras coisas como frascos de álcool. Mais à frente, costumava levantar dinheiro dia sim, dia não e o dinheiro desaparecia. Depois ficou um pouco agressivo quando lhe tiraram a carta de condução. Os amigos também se foram distanciando. E novo choque surge quando deixou de conhecer a esposa e passou-lhe a chamar de mãe ou tia.

«Assistir a estes episódios foi muito doloroso. Vai destruindo cá dentro.»

Olga continua a fazer a sua vida normal, embora sempre preocupada com a evolução da doença do marido, o que a deixa muitas noites sem dormir. Sobre a sua função de cuidadora salienta a necessidade de ter sempre muita força de vontade.

«É preciso estar sempre muito activa, muito desperta e atenta e, por isso, também é importante que eu esteja bem. Se não for assim, não o posso ajudar. Resolvi ter um espaço meu e para isso matriculei-me na ginástica, na natação e faço Chi-Kung. Foi um escape que arranjei.»

Páginas: 1 2

ÁREA RESERVADA

|

Destina-se aos profissionais de saúde

Informações de Saúde

Siga-nos

Copyright 2017 Médicos de Portugal por digital connection. Todos os direitos reservados.