Alimentação e AVC – Quando engolir se torna difícil
Ter dificuldade em engolir alimentos, a chamada disfagia, é uma das complicações que podem surgir associadas a um episódio de acidente vascular cerebral (AVC). É comum os doentes de AVC sofrerem deste problema, que pode ser reversível e durar apenas algumas semanas. No entanto, é preciso ter atenção para evitar a desidratação e a malnutrição.
Chama-se disfagia à dificuldade em engolir, que, na prática, significa que é preciso mais tempo e mais esforço para que os alimentos e os líquidos façam o percurso da boca até ao estômago. Nalguns casos, pode até nem ser possível engolir.
Qualquer pessoa, em qualquer idade, pode ter dificuldade em engolir, por exemplo, quando se come demasiado depressa ou quando se mastigam mal os alimentos. São situações incómodas, mas passageiras e ocasionais.
Contudo, há pessoas que, frequentemente, têm dificuldade em engolir como é o caso das vítimas de um acidente vascular cerebral.
Engolir parece fácil e automático, mas na verdade é um processo complexo que envolve mais de 30 nervos e músculos. É um processo que decorre por fases, a primeira das quais acontece na boca, com a preparação do bolo alimentar, quer mecanicamente, por ação da língua e dos dentes, quer quimicamente, devido à saliva.
A fase seguinte envolve o transporte dos alimentos assim transformados até à entrada da faringe. E aqui, antes de mais, implica um movimento da válvula epiglote no sentido de impedir que os alimentos entrem na laringe, situação que poderia causar problemas a nível respiratório.
Uma vez ultrapassada esta etapa, os alimentos seguem para o esófago, descendo até ao estômago devido aos denominados movimentos peristálticos.
Em qualquer uma destas fases pode haver interferências. E, dependendo da região do sistema digestivo em que ocorrem as perturbações, emergem os diversos sintomas da disfagia: dor ao engolir, sensação de ficar com a comida “presa” na garganta ou no peito (atrás do esterno), regurgitação (os alimentos regressarem à boca), refluxo (subida dos ácidos do estômago) e azia constante, tosse, produção de “baba”, entre outros, como fala anasalada e engasgamento, são alguns dos sintomas associados à disfagia.
Se este incómodo acontecer ocasionalmente, não constitui um problema de saúde, mas se for persistente é recomendado que se consulte o médico. É que, nesse caso, há riscos associados: A malnutrição e a desidratação são as consequências principais da disfagia. Estas surgem como resultado de uma ingestão alimentar ou de líquidos inadequada, contribuindo para o risco de aspiração, asfixia, infeções respiratórias que podem derivar em pneumonia, e ainda o aumento do stress psicológico.
[CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE]UM PROBLEMA COM SOLUÇÃO
Para fazer face à disfagia, há algumas medidas que podem ser tomadas de modo a prevenir a dificuldade em deglutir. Para evitar complicações e recuperar o prazer de comer há que ter em conta todo o processo da alimentação e da nutrição, desde a escolha de alimentos seguros, à sua confecção e ingestão. Ou seja, é preciso adoptar uma terapêutica nutricional, em coordenação com o treino de deglutição, que se caracteriza pela adequação do plano alimentar à consistência tolerada pelo doente, e pela monitorização frequente. A terapêutica nutricional varia entre alimentos sob a sua forma natural, alimentos sob a forma pastosa, alimentos sob a forma líquida espessada com diferentes consistências, até à administração por sonda (nos casos de disfagia severa).
É, pois, preciso desde logo alterar alguns hábitos alimentares e optar pela alteração da consistência dos alimentos, sendo de recomendar ingestão de alimentos com texturas como os purés. Estes são, aliás, uma das melhores formas de garantir uma refeição adequada, saborosa e equilibrada nutricionalmente, já que os líquidos podem também escorrer e afetar as vias respiratórias, sendo por isso conveniente a adição de um espessante alimentar. Os líquidos a espessar podem ser variados: os sumos naturais, sopas e caldos, que são ricos em vitaminas e minerais.
Para uma correta hidratação aconselha-se o uso de águas gelificadas, que garantem a satisfação das necessidades hídricas do paciente, uma vez que são constituídas por 98% de água. Já os iogurtes são soluções frescas que contribuem para aliviar a dor provocada pela disfagia.
NUTRIDOS E HIDRATADOS
Para evitar o risco de malnutrição e a desidratação, uma das opções recomendadas é o uso dos suplementos nutricionais orais em complemento da alimentação habitual, contribuem para a melhoria do estado nutricional e reduzem a incidência de factores de risco e complicações associados à malnutrição.
Os suplementos nutricionais orais específicos para o paciente com disfagia, tais como suplementos hipercalóricos e/ou hiperproteicos, água gelificada, e espessantes alimentares (fórmula industrial), deverão ter em comum a propriedade de resistência à amílase salivar, de forma a garantir a manutenção prolongada da consistência adequada dos alimentos desde a boca até ao estômago – possibilitando uma deglutição segura.
Quando a disfagia afeta pessoas acamadas ou confinadas a cadeiras de rodas, outro fator a ter em conta é a postura adequada no momento da refeição, sendo importante adoptar alguns cuidados, nomeadamente sentando-as o mais direitas possível, de modo a facilitar a passagem dos alimentos até ao estômago ou ainda ações tão simples como virar a cabeça para um ângulo diferente.
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