A mulher-mãe no divórcio
Nesta reflexão são abordados a importância social da mulher no divórcio, em diferentes vertentes. Que factores contribuirão mais para o desajustamento conjugal e que explicações para o aumento crescente do número de divórcios que, vistos numa compreensão social, são o acontecimento que mais contribui para a monoparentalidade e ausência de contacto com os filhos.
Tentaremos perceber que o divórcio, segundo acontecimento mais traumático do ciclo de vida humano, logo a seguir à morte de um filho, é um complexo processo que tem as raízes nas problemáticas da nossa infância.
Nas relações interpessoais, tendemos a repetir os padrões de comportamento infantil, condicionadores das escolhas posteriores, como o estilo de comunicação, expectativas, responsabilidade, profundidade, qualidade emocional na relação e outros comportamentos que «escolhemos» para lidar com familiares, amigos, filhos e cônjuge.
Neste sentido, a mulher traz para a relação conjugal as dúvidas, receios, desejos e constructos pessoais anteriores (factores psicológicos inconscientes), determinantes da qualidade funcional e afectiva que lhes vai imprimir.
Formar uma família traz novos e complexos desafios para os quais nem sempre estamos preparados. Falando da mulher, os diferentes papéis que lhe são exigidos, por necessidade ou convenção social, exigem-lhe um esforço acrescido de responsabilidade, trabalho e adaptabilidade afectiva.
É o peso de uma herança ancestral, impregnada de mitos, difícil de quebrar ou rejeitar, onde esta é obrigada a assumir uma «maternidade idealizada» e romantizada, esquecer muitos dos seus desejos mais recônditos e, angustiadamente, terminar o trabalho inglório de acabar de «criar» o seu próprio companheiro, que vai para a relação com iguais fragilidades afectivas e de afirmação.
De há uns anos a esta parte, o casamento evoluiu de instrumento de sobrevivência para a dimensão afectivo/relacional, tornando-se mais vulnerável à dissolução.
Nesta configuração, em que a mulher detém muito poder, aumenta a solidão de ambos, por responsabilidade pouco partilhada e concomitante carência de cumplicidade, potenciais geradores de conflitos.
São factores de instabilidade conjugal as dificuldades que os casais encontram nos diferentes estilos de comunicação.
Fala-se em falta de assertividade, termo que se pode generalizar aos domínios da conjugalidade. Estas competências sociais, habilidades para comunicar, são a arma mais eficaz na prevenção do sofrimento, instabilidade e separação.
São expectativas pouco realistas as que, muitas vezes, levam a mulher ao casamento. É a crença na existência do «príncipe encantado» dos contos de fadas e na solução mágica de todas as suas necessidades, através deste homem-pai-irmão-amigo e companheiro.
É, depois, a desilusão brutal nos sonhos desfeitos por uma realidade feita de dificuldades por partilhar, rotinas erosivas e pouca disponibilidade para o diálogo, quase sempre da parte do homem, com falta de competências sociais para o fazer de forma eficaz, por parte da mulher, que identifica este défice comunicacional, sentindo-se impotente para o resolver sozinha.
Estas são algumas das razões trazidas para o casamento que podem contribuir para a separação. Contudo, outras existem, decorrentes do mesmo, com igual relevância. Ambos sofrem transformações ao longo do tempo, mas em ritmos diferentes que nem sempre se complementam.
Surge uma desarmonia afectiva e discordante, quase sempre conducente à separação, primeiro emocional e depois efectiva, consequência deste amadurecimento desigual.
Dentro do casamento, são invocados como causadores do divórcio elementos como a infidelidade, factores sexuais, económicos, falta de comunicação, incompatibilidade de carácter e imaturidade emocional, perda de amor, diminuição do desejo sexual, conflitos constantes, interferência dos sogros, falta de dedicação ao casamento, as próprias crenças acerca do casamento e do divórcio e a interferência de factores psicológicos inconscientes que nos levam, por vezes, a manter uma relação destrutiva e outras a terminar essa mesma relação.
Um divórcio, principalmente quando há filhos e não foi desejado, assume o significado de uma morte em vida.
A mulher sente a perda do «ente» gostado, mas está impedida de fazer um luto adequado, pois este «morreu» mas continua vivo.
É um luto enlouquecedor e sempre inacabado. Nesta fase, surgem sentimentos de depressão, desvalorização, baixa de auto-estima, angústia intensa e labilidade afectiva, muitas vezes na origem de transtornos clínicos.
O risco de suicídio é três vezes superior, com aumento do consumo de tabaco, bebidas alcoólicas, drogas e condutas de risco. As consequências objectivas de um divórcio para a mulher podem passar pela diminuição do poder de compra, da saúde, das expectativas positivas de vida.
Da qualidade e brevidade com que a mulher consiga superar a crise do divórcio resulta o bem-estar e saúde mental dos filhos que, habitualmente, ficam à sua guarda.
Por ser de tal importância e urgência, cabe a todos nós, Estado e sociedade civil, possibilitar os suportes socioafectivos e financeiros necessários para ajudar homens e mulheres que passem por estas dificuldades, uma vez que se trata da única forma eficaz de prevenir consequências mais graves para a sociedade em geral.
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