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Insuficiência cardíaca no pós-enfarte aumenta o risco de morte

30 Abril, 2007 0

Alto risco. É nesta categoria que um doente com síndrome coronária aguda (SCA) se insere a partir do momento em que se lhe diagnostica uma insuficiência cardíaca (IC).

Alto risco. É nesta categoria que um doente com síndrome coronária aguda (SCA) se insere a partir do momento em que se lhe diagnostica uma insuficiência cardíaca (IC).

E a confirmá-lo estão os números revelados nos EUA, em Novembro passado, na reunião da American Heart Association, por um cardiologista português: no nosso País, cerca de 80% dos doentes com SCA que morrem no hospital têm IC.

Mais: «Detectámos insuficiência cardíaca em cerca de 17% dos doentes internados com angina de peito instável e em 35% dos internados com enfarte agudo do miocárdio, o que quer dizer que este é um importantíssimo factor de risco no contexto do doente coronário», esclarece o Dr. Carlos Aguiar, cardiologista no Hospital de Santa Cruz, acrescentando:

«Determinar se o doente tem ou não insufi­ciência cardíaca na admissão é uma forma muito prática e importante de saber quem corre o risco de não chegar a ter alta.»

Trocando as percentagens por miúdos, a mortalidade hospitalar de um doente com angina instável aumenta em cinco vezes com a presença de IC, e cresce 12 vezes nos doentes com enfarte agudo do miocárdio que apresentem esta característica de risco.

Este trabalho foi feito com base numa amostra de 5707 doentes, todos integrados no Registo Nacional de Síndromes Coronárias Agudas (RNSCA), um projecto da responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, em curso desde Janeiro de 2002 e que tem sido prospectivo desde essa data.

Ou seja, a totalidade dos doentes com uma SCA que dão entrada numa das 44 unidades hospitalares de todo o País que aderiram a este projecto têm vindo a ser incluídos no registo, um projecto criado com o objectivo de caracterizar a realidade nacional sobre as particularidades da apresentação clínica, da abordagem diagnóstica e terapêutica, e do prognóstico das SCA.

Com esta análise, coordenada por Carlos Aguiar, pretendeu-se avaliar, no grupo de doentes que dão entrada no hospital com uma síndrome coronária aguda, qual a percentagem que apresenta, na admissão ou durante o internamento, insuficiência cardíaca.

«Uma das conclusões mais importantes do nosso trabalho é termos confirmado que a insuficiência cardíaca marca os doentes de maior risco, aqueles que mais poderão beneficiar de cuidados especiais proporcionados em unidades de cuidados intensivos cardiológicos e de uma abordagem terapêutica mais interventiva», diz o especialista.

Contudo, quando os especialistas olharam para o tratamento proporcionado a estes doentes no hospital e o compararam com o tratamento dado aos doentes que não desenvolveram IC, perceberam que «os que têm insuficiência cardíaca não são tratados mais intensivamente.

Durante o internamento receberam menos frequentemente alguns medicamentos e tratamentos potencialmente importantes», lamenta o cardiologista.

Porque é que isto acontece? «Não temos resposta definitiva. E poderíamos não imaginar que assim fosse se não tivéssemos feito esta análise do registo. Isto chama a atenção para o valor dos registos clínicos na caracterização da abordagem terapêutica e do prognóstico dos doentes no mundo real. E, também, para o papel dos registos na avaliação do grau de implementação das recomendações clínicas.

Por outro lado, mostra uma lacuna importante na nossa forma de tratar estes doentes, que têm IC na admissão ou durante a permanência no hospital. Há margem para optimizar o tratamento destes doentes, e, assim, reduzir a sua mortalidade hospitalar», adianta Carlos Aguiar.

Disfunção do ventrículo esquerdo também é um marcador de risco

Alguns doentes não mostram sinais de IC, mas têm coração a funcionar mal. Contudo, o organismo tem uns meca­nismos de compensação, com que todas as pessoas nascem, que abafam durante algum tempo o problema. Quando já não são suficientes estes mecanismos, a IC vem ao de cima.

«Olhámos também, além da insuficiência cardíaca, para a disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, ou seja, procurámos corações cuja força de contracção (sístole) é insuficiente. E quando existia esse défice, o problema era o mesmo.

Não era preciso existir insuficiência cardíaca, bastava estar presente uma disfunção do ventrículo esquerdo para o prognóstico destes doentes, no que toca à mortalidade intra-hospitalar, ser muito significativamente aumentada», explica Carlos Aguiar.

O despiste da disfunção sistólica ventricular esquerda (DSVE) faz-se através de avaliação ecocardiográfica. «Todos os doentes devem ter uma avaliação da função do ventrículo esquerdo antes de ter alta», diz Carlos Aguiar. Esta é uma novidade, porque as guidelines, para certos tipos de SCA (para os enfartes) dizem que é obrigatório fazer esta avaliação, e, para ou­tros, por exemplo as anginas instáveis, isso não está recomendado.

«Verificámos que a presença das duas patologias, insuficiência cardíaca e disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, é a verdadeira combinação explosiva. Estes doentes apresentam percentagens de mortalidade intra-hospitalar na ordem dos 25% a 35%. Ou seja, um em cada três ou quatro pode morrer», alerta Carlos Aguiar, continuando:

«Este é mais um grupo de altíssimo risco que tem de ser tratado de uma forma muito agressiva. Temos de aplicar todas as armas terapêuticas de que dispomos nestes doentes.»

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