Incontinência urinária: Contra mitos e tabus
A incontinência urinária (I.U.) é uma situação patológica que resulta da incapacidade em armazenar e controlar a saída da urina. De acordo com a International Continence Society (ICS), a perda de urina, para além de ser um problema de saúde e de higiene, é uma situação com repercussões a nível social e pessoal.
Como se trata de um assunto que toca a intimidade da pessoa, a incontinência urinária ainda é encarada como um tabu que condiciona a vida do doente a vários níveis: pessoal, familiar, social e laboral.
Este problema pode conduzir a uma fuga do contacto social e ao isolamento, porque está sempre presente o medo e a vergonha de que os outros sintam o cheiro. Pode afectar também a relação conjugal, uma vez que a intimidade do casal é prejudicada.
A incontinência urinária acarreta custos e despesas enormes e é um aspecto económico que se vai agravar nos próximos anos, já que se assiste a uma tendência de maior longevidade populacional. O tratamento da doença em geral é mais caro para a sociedade que, por exemplo, o tratamento de cancro da mama ou que o programa de transplantação renal dada a grande prevalência desta situação.
As mulheres em idade activa são mais afectadas. Porquê?
Muito embora a incontinência urinária seja transversal a ambos os sexos e a todas as idades, o grupo de mulheres em fase activa – entre os 45 e os 65 anos – é aquele onde o problema assume um carácter mais marcante. Em termos comparativos, nestas faixas etárias, por cada três mulheres existe um homem afectado pela doença. A justificação desta incidência reside na anatomia do períneo da mulher. Os partos podem constituir um traumatismo que debilita as estruturas musculares; a obesidade e a obstipação são igualmente factores de risco.
A incontinência urinária, sobretudo na mulher, é um grave problema cultural. Como a mãe e a avó também sofreram da mesma doença, assume-se a incontinência urinária como uma herança. O factor familiar expõe a ideia de que é algo natural e, por isso, deve ser encarado como um fardo. Assim a mulher vai protelando a solução e tenta adaptar o seu dia-a-dia, até ao ponto em que começa a estar atada e condicionada por esta situação.
Reconhecer os tipos de incontinência urinária
A incontinência urinária pode ser dividida em dois grupos:
Incontinência de esforço
Mais prevalecente em mulheres entre os 45 e 65 anos, decorre da fragilidade dos músculos pélvicos que suportam a bexiga e a uretra. Em circunstâncias de maior esforço, como tossir, saltar, correr, espirrar e levantar pesos, a pressão abdominal aumenta e o esfíncter (válvula responsável pela retenção da urina na bexiga) perde a força e deixa escapar a urina.
Nos homens este problema pode derivar da prostatectomia radical (cirurgia utilizada no tratamento do cancro da próstata). Como a próstata se encontra numa situação anatómica crítica (entre a bexiga e o esfíncter), a cirurgia pode danificar o esfíncter, provocando uma situação de incontinência de esforço.