Há circunstâncias em que pode haver solução, outras há que se tornam irreversíveis.
Esta ideia aplica-se ao cidadão comum, mas sobretudo a grupos profissionais de risco, a quem a lei do trabalho obriga a testes auditivos periódicos. Mas também existem programas em curso para a despistagem de limitações auditivas a recém-nascidos, como o atestam instituições como o Hospital de D. Estefânia, em Lisboa.
É precisamente por aqui que tudo começa, no que toca a uma boa saúde auditiva, antes de avançarmos por outros caminhos. Até porque qualquer perturbação auditiva à nascença, por pequena que seja, pode trazer outras complicações no futuro, nomeadamente num ponto importante: a fala.
Nos primeiros três anos de vida é fundamental que as faculdades auditivas sejam normais, porque vão ter influência no desenvolvimento da linguagem.
Por isso, não só é aconselhado que qualquer deficiência seja detectada o mais cedo possível, como também a terapêutica indicada deve arrancar antes dos seis meses de idade
Outras razões que justificam a realização do rastreio? As probabilidades de uma criança nascer com carências auditivas acentuadas cifram-se num ou dois casos por cada 1000, mas 90% das crianças nascidas com problemas sérios a esse nível não têm antecedentes familiares ou factores de risco que anunciem um prognóstico de surdez.
Primeiro exame dura pouco
e não dói
Os avanços tecnológicos obtidos nesta matéria dão garantias em diversos aspectos.
«Nas crianças mais pequenas, até aos três anos, utilizam-se técnicas próprias para despiste da audição, como pesquisa de potenciais evocados auditivos, jogos interactivos, visionamento de imagens, mas também exames como o timpanograma. Este consiste na introdução no ouvido de um dispositivo adequado a bebés ou crianças um pouco mais velhas, que tem a capacidade de medição da pressão, emitindo igualmente sons muito leves. Isso traduz-se numa curva de funcionamento do ouvido, ou seja, do conjunto formado pelo tímpano e pelo conjunto de ossículos e pequenos músculos associados», refere o Dr. Borges Guerra, otorrinolaringologista do Hospital de Pulido Valente, em Lisboa.
Estes exames nos recém-nascidos são efectuados durante o sono, duram pouco tempo e não significam dor. Podem ser repartidos por duas fases: uma primeira, antes de sair do hospital, em que os resultados obtidos não indicam qualquer deficiência. Mas por vezes há dúvidas, porque o ouvido não deu resposta, por vários motivos: a audição está realmente atingida ou havia líquido no interior do ouvido, por exemplo. Aí haverá uma repetição dos testes, que será decisiva.
Em fases mais tardias, o audiograma, a pesquisa de reflexos tem como objectivo testar a reacção do ouvido a sons com determinadas frequências e, desse modo, verificar como está o sistema auditivo, refere o especialista. Isto porque há sempre que contar com o inesperado: infecções ou traumatismos que podem contribuir para danificar o aparelho auditivo.
Borges Guerra considera ainda que as crianças não devem começar a usar aparelho numa fase tardia, se antes já havia um motivo para tal.
Como meio complementar da história clínica e da observação médica, a TC (tomografia computadorizada) é uma ajuda preciosa para descobrir com mais pormenor se há líquido acumulado, fibroses ou anomalias das estruturas do ouvido.