Arquivo de Hematologia - Médicos de Portugal

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Sendo mais prevalente em crianças e grávidas, pode afectar também mães a amamentar e mulheres adultas em fase reprodutiva, adolescentes, homens e idosos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) 30 por cento da população mundial padece de anemia, sendo a sua prevalência entre as crianças com menos de dois anos de aproximadamente 50 por cento.


A anemia caracteriza-se por uma redução dos glóbulos vermelhos ou da hemoglobina (a proteína que transporta oxigénio) no sangue, comprometendo o adequado fornecimento de oxigénio às várias partes do corpo.


São várias as causas que podem originar anemia, nomeadamente o défice de ferro ou de vitaminas como a vitamina B12 ou o ácido fólico, as hemorragias, doenças crónicas, entre outras, sendo a anemia devido ao défice de ferro, ou anemia ferropénica, o tipo de anemia mais comum.


Também o facto de se estar submetido a uma terapêutica pode induzir o doente a uma anemia, uma vez que a toma de alguns medicamentos pode também ser causa desta patologia. Daí a especial atenção que recai nos profissionais de saúde quando propõem terapêuticas ou no acto da dispensa de medicamentos.


 


Quem pode ser afectado pela anemia?


Pode surgir anemia em bebés ou crianças caso haja um baixo aporte de ferro na alimentação; nas crianças e adolescentes, uma vez que as necessidades de ferro estão aumentadas nesta fase de crescimento rápido; na gravidez, dado que há uma maior demanda de ferro devido ao crescimento do feto.


Na mulher em idade fértil, a anemia por falta de ferro pode dever-se aos fluxos menstruais abundantes e nos adultos, em geral, pode ser causada por perda de sangue crónica, por vezes imperceptível, nas fezes. Nos idosos, a anemia pode dever-se a défice de ferro ou a existência de doenças crónicas.


 


Como se manifesta a anemia?


Os sintomas são múltiplos, salientando- se a palidez, cansaço, indisposição, falta de apetite, fraqueza, incapacidade para fazer exercício, dores de cabeça ligeiras, tonturas, zumbidos no ouvido ou palpitações.


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Uma adequada circulação sanguínea é essencial para um bom estado de saúde, na medida em que é o sangue que transporta o oxigénio e demais nutrientes às diversas partes do organismo, do cérebro às extremidades.


O oxigénio é, por assim dizer, “alimento” para um correcto desempenho de funções cerebrais como a memória e a concentração. Um cérebro adequadamente oxigenado fica mais “em forma” para tarefas aparentemente tão simples como encontrar as palavras certas num exercício de palavras cruzadas… ou concentrar-se na leitura de um texto. Mas não é apenas o cérebro que beneficia de uma adequada circulação sanguínea. Todas as funções do organismo saem a ganhar quando o sangue flui pelas artérias. A própria temperatura corporal é afectada: basta pensar no desconforto de quem com frequência sente as mãos e os pés frios. Provavelmente, o fornecimento de sangue às extremidades é insuficiente, porque, algures no “circuito”, há entraves à sua passagem.


São várias as razões para que haja obstáculos à circulação sanguínea.


Uma delas é o envelhecimento. De um modo geral, todas as funções do organismo abrandam e, no que respeita aos vasos sanguíneos, pode acontecer, além disso, que haja formação de placas, o que dificulta a passagem do sangue.


Há doenças, como as de natureza cardiovascular, que têm o mesmo efeito.


São doenças que podem acontecer em qualquer idade, mas que são mais prováveis com o passar dos anos.


Daí que as queixas de falta de memória se tornem mais frequentes com o avançar dos anos e daí também que sejam as pessoas mais velhas as que se queixam mais de terem as mãos e os pés frios.


Nesta matéria, porém, a investigação médica e científica tem dado passos positivos. E um desses passos aponta para a existência de uma relação favorável entre o extracto natural da planta ginkgo biloba e a circulação sanguínea. É que o extracto contribui para dilatar os vasos sanguíneos, assim facilitando a passagem do sangue. Tem igualmente efeito sobre a viscosidade do sangue, diminuindo-a e assim tornando o sangue mais fluido. São dois factores que ajudam ao fornecimento de sangue a todo o organismo, nomeadamente às zonas mais extremas – como as mãos e os pés, mas também o cérebro. Estão igualmente a ser desenvolvidos estudos que apontam para um efeito positivo do ginkgo biloba sobre a doença de Alzheimer, nomeadamente contribuindo para retardar o seu desenvolvimento nas fases iniciais.


Estes benefícios podem ser colhidos mediante a toma de suplementos de ginkgo biloba. Todavia, como são produtos de saúde, estes suplementos só devem ser tomados com aconselhamento de um profissional de saúde, nomeadamente o farmacêutico, na medida em que podem interagir com outros produtos ou medicamentos.





Porque é que o sangue é vermelho? Interessante retórica. É tudo por causa do heme, um composto químico que transporta o oxigénio e é o responsável por dar uma cor avermelhada ao sangue.


Grande parte do heme é sintetizado na medula óssea para a produção de hemoglobina, mas o fígado também produz grandes quantidades de heme, que é utilizado nos citocromos que oxidam substâncias químicas estranhas, incluindo medicamentos, para que sejam eliminadas mais facilmente do organismo. Assim, temos um conjunto de oito enzimas diferentes que intervêm sequencialmente na síntese do heme. Quando se verifica uma deficiência de uma das enzimas, os precursores químicos do heme podem acumular-se nos tecidos. Falamos então de porfíria.


Os sintomas dependem da enzima deficiente, mas o sistema nervoso e a pele são os órgãos mais afectados, o que justifica que as porfírias sejam normalmente classificadas como agudas ou cutâneas. As primeiras são acompanhadas de dores abdominais, obstipação, vómitos, dores nos braços, pernas e costas, dores musculares, entorpecimento, fraqueza ou até paralisia dos membros, além de sintomas do foro neurológico como alucinações, desorientação e paranóia. Já as porfírias cutâneas são caracterizadas pela formação de bolhas - nas áreas expostas ao sol - cicatrizes, escurecimento e espessamento da pele e aumento da pilosidade. Uma característica comum à maioria dos tipos de porfíria é a tonalidade vermelha da urina, já que é através da urina e das fezes que as porfirinas são excretadas, e a hipersensibilidade à luz, o que tem suscitado alguma mistificação em torno dos vampiros... Afinal, vivem na calada da noite porque não suportam a luz e precisam de renovar o sangue.


Esta doença é rara e incide mais nas mulheres, tendo uma herança genética na maior parte dos casos. O diagnóstico pode não ser fácil, pela natureza rara, mas as análises clínicas podem detectar a presença de níveis elevados de porfirinas.


Uma vez diagnosticada, a profíria aguda é tratável com fármacos para alívio da dor, náuseas e vómitos, ingestão de glicose e a toma de hematina, uma forma de heme que ajuda a reduzir os níveis de porfirinas; quanto às porfírias cutâneas, a administração de carvão activado contribui para absorver as porfirinas e acelerar a sua excreção e, nalguns casos, a flebotomia, que consiste na extracção de sangue, de modo a reduzir a quantidade de ferro no organismo, pode ser a via para reduzir a concentração de porfirinas.





O Instituto Português do Sangue,IP (IPS,IP) é a instituição de dádiva por excelência em Portugal, e aonde pode recorrer presencialmente, por telefone ou através do site www.ipsangue.org para receber todas as informações de que necessite. É também desta forma que pode aceder a todos os locais onde se realizam sessões de colheita, com a indicação do respectivo horário e local.


Se se questiona regularmente porque deve dar sangue, saiba que os serviços de sangue dos hospitais dependem diariamente de todos os dadores que, de forma regular, partilham um pouco de saúde com quem a perdeu. "Todos os dias existem doentes com anemia, doentes que vão ser submetidos a cirurgias, doentes acidentados com hemorragias, doentes oncológicos que fazem tratamento com quimioterapia, doentes transplantados e muitos outros que necessitam de fazer tratamento com componentes sanguíneos", indica o IPS. Enquanto um doente com anemia pode necessitar de uma ou duas unidades de sangue, uma pessoa que necessite de um transplante de fígado ou um doente com leucemia pode necessitar de um número bastante elevado de componentes sanguíneos.


A verdade é que "são necessárias diariamente 1250 unidades de sangue para que o Serviço de Nacional de Saúde funcione em pleno", salienta a Dr.ª Leonilde Outerelo, responsável pelo serviço de promoção e colheita do Centro Regional de Sangue de Lisboa do IPS.


 


Quem pode dar sangue?


Pode tornar-se dador quem tem hábitos de vida saudáveis, esteja em bom estado de saúde, tenha peso igual ou superior a 50 kg e idade compreendida entre os 18 e os 65 anos. "Para uma primeira dádiva, o limite de idade é os 60 anos embora possa ser aceite posteriormente mediante avaliação clínica", esclarece Leonilde Outerelo.


Os homens podem dar sangue de três em três meses (o correspondente a quatro vezes/ano), e as mulheres de quatro em quatro meses (três vezes por ano), sem qualquer prejuízo para si próprios. "Uma unidade de sangue total representa 450 ml. Cada pessoa tem em circulação cinco a seis litros de sangue, dependendo da sua superfície corporal. O sangue doado é rapidamente reposto pelo nosso organismo. Não há qualquer possibilidade de contrair doenças através da dádiva de sangue, pois todo o material utilizado é estéril, descartável e usado uma única vez", salienta a responsável do IPS.


São conhecidas algumas contra-indicações à dádiva de sangue, devendo o candidato a dador responder com verdade ao questionário que preenche e dar o seu consentimento informado através da sua assinatura. Posteriormente durante a entrevista médica o clínico irá avaliar a possibilidade de determinada pessoa poder ou não dar sangue. "É também no momento de avaliação que o potencial dador fica a saber se terá ou não glóbulos vermelhos suficientes para poder dar sangue e não ficar prejudicado. Mede-se a tensão arterial e a frequência cardíaca. Se o dador reunir todas as condições, ficará apto e passa à fase de colheita propriamente dita", diz-nos Leonilde Outerelo.


Os Centros Regionais de Sangue do IPS (Lisbos Porto e Coimbra) estão abertos ao público de 2.ª a Sábado, das 8h00 às 20h00, sem interrupção para almoço. Além deste horário alargado, existe a possibilidade de procurar no site www,ipsangue.org as brigadas do IPS que se realizam de Norte a Sul do país, facilmente acessíveis.


Poderá ainda dar sangue nos Hospitais que ainda fazem colheita de sangue a dadores. Basta procurar e aparecer!


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Ameaças externas. Estes "soldados", presentes no sangue, têm por missão defender o organismo das eventuais ameaças. Não se sabe ao certo as causas, mas julga-se que o aparecimento de leucemias e linfomas se relacione com a resposta imunológica ligada à morte celular. Sabe-se, ainda, que o contacto com alguns vírus e uma exposição a radiações (como aconteceu com as vítimas da bomba atómica) podem despoletar o mecanismo de replicação de células malignas no sangue. No entanto, na grande maioria dos casos não existe uma explicação para o aparecimento destes cancros. 


 


O que é um linfoma?


"Um linfoma consiste numa multiplicação desordenada e incontrolada de linfócitos. Estas células correspondem a um tipo de glóbulos brancos responsável pela imunidade e que se encontram, habitualmente, nos gânglios mas também no baço, no sangue e na medula óssea. Esta doença maligna manifesta-se pelo aumento patológico dos gânglios (vulgo "ínguas") frequentemente instaladas na região cervical ou axilar e inguinais, esclarece o Dr. Herlander Marques, oncologista do Hospital de S. Marcos, em Braga.


Os linfomas podem-se dividir-se em duas categorias: Hodgkin e não-Hodgkin. No primeiro caso, "relativamente frequente nos adultos jovens", a taxa de cura é elevada: "cerca de 60 a 80% destes tumores são curáveis, através da quimioterapia", fundamenta. "Histologicamente, existe uma grande distinção entre os dois tipos de linfomas, para além da idade em que ocorrem. O linfoma não-Hodgkin, para além de ser frequente, atinge os indivíduos mais velhos."


Por norma, o sinal mais frequente de apresentação dos linfomas é o aparecimento de gânglios aumentados na região cervical ou axilar. "O baço e o fígado podem ainda aumentar de tamanho, devido à invasão pelo linfoma. Os doentes surgem com queixas de "falta de força, falta de apetite, emagrecimento, episódios de febre, suores nocturnos e, mais raramente, prurido."


 


Invasão da "fábrica de sangue"


De acordo com a origem do termo, "leucemia" significa que existe um crescimento desmesurado de células malignas no sangue. Existem dois tipos de leucemias: linfóides (afectam os linfócitos, à semelhança do que acontece com os linfomas) e as mielóides. "As leucemias linfoblásticas surgem, mais frequentemente, nas crianças, mas afectam também os adulto e aumentam de incidência com a idade. Já as leucemias mielóides são relativamente raras nos jovens, aumentando à medida que a idade avança", explica o especialista.


Estes tumores invadem a medula óssea: considerada a "fábrica de sangue". E, em consequência disso, as células normais deixam de produzir sangue. "Os glóbulos brancos baixam, aumentando o risco de infecção. Por redução da produção de glóbulos rubros, pode surgir anemia: os doentes queixam-se de falta de força, cansaço, falta de ar quando fazem esforço. Além destes sintomas, pode haver redução na produção das plaquetas, com alteração no sistema de coagulação, em que ocorrem perdas espontâneas de sangue (hemorragias) ou o aparecimento de ‘pisaduras' ou hematomas no corpo."


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Para Cláudio Gonçalo Costa, técnico de turismo, de 26 anos, «é importante que as pessoas doem sangue porque é uma forma de ajudar os outros. É sempre de valorizar o espírito de entre ajuda que deve haver em relação a pessoas que podem, numa determinada altura, por diversos motivos, necessitar de uma transfusão de sangue».

Já para Helena Costa, de 35 anos e bancária de profissão, «ser dador de sangue é ter um posicionamento um pouco altruísta e termos a possibilidade de fazermos alguma coisa por outras pessoas pois, quem sabe, um dia não podemos ser nós a precisar».

Cada vez mais os portugueses estão mentalizados sobre a importância de se dar sangue. Isso mesmo demonstram os números do Instituto Português do Sangue (IPS) que revelam um total de 165 mil unidades recolhidas em 2004, com um consequente aumento para as 190 mil unidades no ano passado.

De acordo com o Dr. José d’Almeida Gonçalves, presidente do IPS, «a grande maioria dos dadores dá sangue uma vez por ano. Até podiam dar mais vezes, pois os homens podem dar sangue até quatro vezes por ano, ou seja de três em três meses, enquanto que as mulheres podem dar sangue até três vezes num ano, ou seja, de quatro em quatro meses. O ideal era que dessem a cada seis meses».

O sangue continua e continuará a ser necessário. Essa necessidade só é colmatada pela doação voluntária que os dadores fazem. Se é verdade que hoje a situação é boa em comparação com anos anteriores em que o valor das unidades armazenadas era criticamente baixo, hoje há um número que permite ter uma situação controlada.

É precisamente por este inverter de situação que «todos os dias são dias para agradecer aos dadores. São eles que contribuem para o aprovisionamento das unidades de sangue que irão permitir salvar vidas. Temos de reconhecer o papel preponderante e imprescindível deste grupo de pessoas», refere o presidente do IPS.

Uma situação, que também merece a atenção por parte de José d’Almeida Gonçalves, é a participação cada vez maior das mulheres em todo o processo de doação de sangue. Segundo o representante máximo do Instituto, «as mulheres estão a ter um papel cada vez mais preponderante. Creio mesmo que dentro de dois a três anos atingiremos o equilíbrio entre dadores e dadoras. Já neste momento, na nossa delegação do Porto, temos um maior número de mulheres do que homens como dadores de sangue».

Esta nova postura deve-se a um maior conhecimento por parte da sociedade em geral em relação ao conceito de se ser dador de sangue. Além desta mudança de mentalidade, também as associações e entidades com quem o IPS trabalha têm vindo a desempenhar um papel importante, desbravando muitas vezes terrenos mais fechados. São mais de 600, a sua grande maioria gerida, com órgãos sociais eleitos e sedes próprias, o que lhes atribui, desde logo, um cunho de profissionalismo.





Implementada em hospitais e centros regionais de sangue, existe há alguns anos, mas é pouco conhecida por quem não está contextualizado na dádiva de sangue.

No que toca a doação de sangue, a palavra aférese pode não fazer muito sentido, pelo menos para quem não está familiarizado com esta forma diferente de dar sangue.

É um termo usado na Medicina Trans­fusional, que designa separar. E, contextua­lizando-o nesta área da Medicina, serve para nomear um processo de separação de componentes sanguíneos a um dador ou a um doente e proceder à sua colheita ou à sua remoção, consoante seja uma dádiva ou um tratamento.

«Este processo de separação de componentes sanguíneos é feito por centrifuga­ção, em que o sangue é separado nos seus constituintes: glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma», refere a Dr.ª Ana Paula Sousa, imuno-hemoterapeuta no Centro Regional de Sangue de Lisboa do Instituto Português do Sangue.


Relativamente à técnica, a especialista explica:

«É uma colheita automática, que é feita por uma máquina designada separador celular, que se programa previamente para colher o componente necessário. Tal como na colhei­ta de sangue total, o dador é puncionado num só braço: o sangue sai, é anticoagulado, circula no separador, que separa (colhe) o ou os componentes previamente seleccionados, reinfundindo no dador os restantes componentes. Assim, ao ser programada uma colheita de plaquetas – plaquetaférese – o separador só colhe este componente, sendo todos os outros devolvidos ao dador pelo mesmo local de punção.»

A aférese é, pois, uma colheita selectiva, em que se selecciona o que se quer co­lher para posteriormente ser transfundido em quem necessite. Este procedimento aferético pode ser utilizado também com finalidades terapêuticas. Nesta perspectiva, o ou os componentes sanguíneos que estão a prejudicar o doente são colhidos e eliminados.

Esta técnica foi iniciada no Centro Regional de Sangue de Lisboa em Novembro de 2001. Porém, já era efectuada em outras Instituições (IPO de Lisboa, Hospital de Egas Moniz e Centro Regional de Sangue do Porto, entre ou­tros), de acordo com as necessidades transfusionais.
De salientar que no Centro Regional de Sangue de Lisboa a aférese não é usada para fins terapêuticos, apenas para co­lheita de componentes sanguíneos.

Na Unidade de Aférese do Centro Regional de Sangue de Lisboa são feitas doações de plaquetas e glóbulos vermelhos. Contudo, a colheita simultânea destes dois componentes, através do separador celular, é muito recente.

«No passado dia 20 de Setembro começámos a efectuar a colheita multicomponente (plaquetas e glóbulos vermelhos), sendo esta unidade a pioneira no nosso País», indica Ana Paula Sousa.



Colheita selectiva,
escolha selectiva

Os critérios subjacentes a uma colheita selectiva dependem do perfil hematológi­co do dador e estão relacionados com as carências da instituição.

«Há dadores que, de acordo com a sua fisiologia hematológica (parâmetros do hemo­grama), se adequam mais à colhei­ta de plaquetas, outros à de glóbulos verme­lhos e outros que poderão doar os dois componentes. Desta forma, tentamos assim responder às necessidades da instituição», menciona Ana Paula Sousa, continuando:

«A avaliação do dador é fundamental, com critérios de selecção rigorosos, e envolvendo também uma avaliação analítica, uma vez que a selecção do componente a colher depende do seu perfil. A avaliação analítica envolve a realização de um hemograma (o dador tem que ter contagens celulares compatíveis com a colheita, seja de glóbulos vermelhos, seja de plaquetas), o estudo da coagulação, uma bioquímica e um electrocardiograma para avaliação da função cardiovascular

Como não poderia deixar de ser, para se ser dador de aférese é imperativo preen­cher os requisitos pedidos aos dadores de sangue total, assim como outras condições especiais, que estão relacionadas com as características particulares desta forma diferente de dar sangue.

De acordo com a imuno-hemoterapeuta, «é uma colheita mais demorada (40 minutos para a plaquetaférese, e 50 minutos se for colheita multicomponente), o que implica disponibilidade de tempo e capacidade para tolerar uma colheita mais demorada».

Todos os dadores de aférese são inicialmente dadores de sangue total. Ao tomarem conhecimento desta nova forma de dar sangue, são eles próprios que se inscrevem, podendo demorar vários meses até serem chamados.

«Há dadores que se disponibilizam, mas que não reúnem as condições para colaborar na aférese. Não quer dizer que estejam com problemas de saúde, mas podem ter condicionantes físicas, hematológicas ou pessoais», comenta Ana Paula Sousa.

Quando aceites e dependendo da própria disponibilidade, os homens podem doar glóbulos vermelhos de três em três meses e as mulheres de quatro em quatro meses. Já a periodicidade definida no Centro Regional de Sangue de Lisboa para a colhei­­ta de plaquetas é de dois meses.

«Após a realização das análises à unidade colhida, os respectivos componentes estão disponíveis para aplicar num doente. Por outro lado, através desta forma diferente de dar sangue, a quantidade de plaquetas colhidas é muito superior, em número, às colhidas numa dádiva de sangue total, sem qualquer prejuízo para o dador», explica a especialista, salientando:

«Numa dádiva de sangue total, cada unidade colhida tem de ser processada laboratorialmente (separada nos seus componentes), sendo um processo demorado e que envolve recursos humanos. Por outro lado, um concentrado unitário de plaquetas, obtido por aférese, é equivalente a seis concentrados de plaquetas obtidos a partir de dadores de sangue total. Desta forma, com a boa vontade e disponibilidade de um dador de aférese, conseguimos transfundir um doente que necessite de plaquetas, enquanto necessitamos de seis dádivas de sangue total para transfundirmos um doente nas mesmas circunstâncias.»






Portugal quase auto-suficiente em glóbulos vermelhos


No próximo ano, no máximo em 2006, os doentes, dentro das fronteiras lusas, poderão ser atendidos sem esperas, sem ser necessário estabelecer prioridades ou «fazer ginástica» para receber sangue alheio. Isto porque Portugal atingirá a sua primeira meta de auto-suficiência em componentes eritrocitários (glóbulos vermelhos). Ou seja, o número de dádivas de sangue vai crescer o suficiente para que todos aqueles que necessitam o recebam.

Conseguir a auto-suficiência significa alcançar o número de dádivas para satisfazer anualmente as necessidades nacionais em componentes terapêuticos de sangue. Isto está calculado, aproximadamente, em 350 mil unidades de concentrados eritrocitários, acrescentando uma reserva estratégica de mais 30 mil unidades e o aproveitamento do plasma para produção de medicamentos de si derivados.

O crescimento da dádiva tem sido tão sustentado que o Instituto Português do Sangue (IPS) se atreve a prever que, dentro em breve, também vai ser possível criar uma reserva estratégica de sangue. Estas cerca de 30 mil unidades extra vão servir para, por exemplo, fazer frente a grandes acidentes de viação ou catástrofes naturais.

Os números falam por si: em mais de uma década o País cresceu faseadamente 100 mil unidades. E os louros desta quase--conquista da auto-suficiência revertem, em grande parte, para quem estende o braço e dá o seu sangue.


O que os move?
«É uma partilha de saúde com quem a perdeu, com quem está em grande aflição e dificuldade», avança, em jeito de explicação, o Dr. Almeida Gonçalves, director do IPS.

Em Portugal, existem cerca de 600 organizações de dadores, que vão desde estruturas muito incipientes (por exemplo, um líder numa empresa, que sensibiliza os seus colegas e arranja 30 ou 40 voluntários para dar sangue num dia), até associações muito organizadas, com estatutos, bases programáticas, tudo com registos notariais, com assembleias-gerais, corpos directivos, órgãos fiscalizadores.

Mas, afinal, o que faz aumentar o número de dadores e o que leva os que já existem a manter a camisola vestida?

«Tem-se falado muito em dádiva de sangue, fizeram-se muitas campanhas a nível nacional. Isto entra pelos olhos e pelos ouvidos dos portugueses, vai amadurecendo, as pessoas vão adquirindo uma cultura de dádiva. Temos uma base cada vez maior de dádivas e dadores», argumenta Almeida Gonçalves.

Há uma outra entidade, para além do IPS, das associações e dos dadores individualizados que, em Portugal, também tem muita responsabilidade no fomento da dádiva: a Igreja Católica.

«Tem tido um papel determinante, com uma intensa e maior participação nas zonas Norte e Centro do País, onde é fortemente estimuladora da dádiva, incentivando as pessoas a fazerem-na. O apelo é, mais ou menos, qualquer coisa como: se querem ser solidários, ajudem o próximo e se puderem façam-no através da dádiva de sangue. Esta é uma mensagem muito forte dada pela Igreja Católica. É passada nas missas, nas eucaristias, nos núcleos de acção católica. E isto funciona bem», lembra o director do IPS.

Todavia, não se pense que, por estarmos quase a alcançar a auto-suficiência, as dádivas futuras são dispensáveis. Pelo contrário. O IPS, por exemplo, tem a árdua (ou talvez não) tarefa de manter as pessoas na dádiva.

«Em Portugal, é muito fácil trazer as pessoas a fazer uma dádiva. É mais difícil mantê-las a doar o seu sangue com regularidade. É aqui que é preciso continuar a trabalhar, criar, como dizia, uma cultura de dádiva. Não pode ser uma só vez ou com grande irregularidade», diz Almeida Gonçalves.


Sangue europeu
À frente do IPS há 12 anos, Almeida Gonçalves está à-vontade para dizer que muito se tem feito nesta área, não só para incrementar a dádiva de sangue dos portugueses, mas também, nos bastidores, para garantir a segurança e a qualidade desta matéria-prima.

«O sangue em Portugal é tão seguro como noutras partes do mundo. Só não podemos falar em segurança absoluta porque ela não existe em Medicina. Além de que temos sempre encostadas ao pescoço, quais espadas, as novas doenças emergentes. E os vírus também se modificam», sublinha o responsável do IPS. Em matéria de segurança e qualidade, aliás, esta entidade fez grandes avanços nos últimos anos, de forma a atingir níveis de excelência e a preparar-se para a uniformização em matéria de processamento de sangue no espaço da União Europeia (UE).

Neste momento está a ser transposto para a legislação nacional o texto da Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho 2002/98/CE, de 27 de Janeiro de 2003. O objectivo é que todo o sangue que circula e é recolhido no espaço comum seja tratado da mesma maneira, «para que toda a gente que está em trânsito ou que vive fora do seu país, na UE, tenha a mesma qualidade e a mesma segurança transfusional que tem no seu próprio país», sublinha Almeida Gonçalves, acrescentando:

«Estamos a mudar a Lei Orgânica do Instituto, que data de 1990. Vem separar os serviços centrais do IPS dos Centros Regionais de Sangue (CRS) de Lisboa, Porto e Coimbra, de maneira a criar aqui um Instituto e uns subinstitutos. Eles vão ter autonomia e responsabilização próprias, o que não acontecia rigorosamente até hoje.»

Na prática, com esta nova Lei Orgânica, os serviços centrais do IPS vão passar a ser uma Autoridade Competente, «estrutura que fiscaliza, coordena, licencia, audita e controla toda a qualidade do sangue nos CRS ou nos hospitais que ainda colhem sangue e deixarão de o fazer. É uma entidade que tem de ser independente das estruturas colhedoras para que tenha a isenção e o distanciamento necessários, a fim de que aquilo que preconiza, ou manda cumprir, possa estar independente», garante Almeida Gonçalves.

É também a Autoridade Competente que vai informar, nos comités da Comissão Europeia, da aplicação da Directiva, sobre a forma como a transposição e o cumprimento destas normas vão acontecendo em Portugal.


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